Programa inovador para melhorar a qualidade de vida de doentes oncológicos mais velhos recruta participantes

Até ao final de 2024, o programa está a recrutar participantes no concelho de Coimbra, que devem ter 70 ou mais anos de idade e doença oncológica ativa. Depois do recrutamento, vão ser acompanhados durante um ano por um "navegador", em diversas situações que possam melhorar a qualidade de vida.

CR
Catarina Ribeiro
10 abril, 2024≈ 6 mins de leitura

A sessão de apresentação do recrutamento de participantes decorreu ontem, dia 9 de abril, na Antiga Estação Elevatória do Parque (Museu da Água), com a participação de Bárbara Gomes (UC), de Vítor Rodrigues (LPCC.NRC) e de Margarida Ornelas (IPOC).

© LPCC.NRC

Ao longo de um ano, um “navegador” vai acompanhar um doente oncológico em diversas situações que possam melhorar a qualidade de vida: esta é a proposta central de um programa inovador que está a ser implementado em Portugal no âmbito do projeto europeu EU Navigate.

Até ao final de 2024, o programa está a recrutar participantes no concelho de Coimbra, que devem ter 70 ou mais anos de idade e doença oncológica ativa. Vão ser acompanhados pelos "navegadores", voluntários criteriosamente selecionados e devidamente "treinados" sob orientação de profissionais de saúde envolvidos no projeto.

As inscrições para participação no programa já estão a decorrer e são feitas através de um formulário online, disponível em www.uc.pt/eunavigate. Este programa de apoio é gratuito.

Em Portugal, o EU Navigate é liderado pela Universidade de Coimbra (UC), através da Faculdade de Medicina (FMUC), e conta com a colaboração do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC.NRC) e do Instituto Português de Oncologia de Coimbra (IPOC).

Sobre os critérios de seleção de participantes, há alguns requisitos a ter em conta, além da idade (70 ou mais anos) e do diagnóstico de doença oncológica. “Como se trata de uma intervenção realizada na comunidade, no momento de inclusão no estudo a pessoa tem de viver em casa (ou deverá ter alta hospitalar em breve)”, explicam as investigadoras da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Bárbara Gomes e Maja de Brito, que lideram o projeto em Portugal.

“Nos casos em que a pessoa com cancro tem um cuidador familiar principal, esse será igualmente convidado a participar no estudo. Como tal, ter um cuidador familiar não é motivo para uma pessoa com cancro não participar no estudo”, elucidam. As investigadoras da UC sublinham ainda que “a intervenção é também destinada a pessoas que, apesar de não precisarem de ajuda diária de outras pessoas, tenham sintomas que as limitam nas suas atividades, como cansaço”.

Inspirada no programa canadiano Nav-CARE, esta abordagem de apoio psicossocial pretende melhorar o acesso dos doentes a cuidados de saúde e a outros recursos existentes na comunidade. Ao implementar este modelo em Portugal, a equipa pretende “perceber qual a diferença que este tipo de apoio complementar faz na vida do doente”, destaca a equipa da UC.

“Mais especificamente, interessa perceber se ser acompanhado por um navegador melhora a qualidade da vida da pessoa com cancro e se faz diferença no apoio social que a pessoa com cancro recebe. Além disso, queremos também perceber se, com a presença e intervenção do navegador, as pessoas se sentem menos sozinhas e isoladas, se o seu bem-estar melhora, se conhecem melhor e utilizam mais recursos relacionados com cuidados da saúde e cuidados sociais”, avançam Bárbara Gomes e Maja de Brito. “Um ponto igualmente importante é saber se o acesso aos cuidados de saúde e sociais acontece mais atempadamente quando existe apoio de um navegador”, acrescentam.

“Face a uma população cada vez mais envelhecida, este projeto espelha a natural evolução das novas metodologias de intervenção social e comunitária”, destaca o presidente da Direção do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Rodrigues.

Além das inscrições por iniciativa do doente ou seus familiares (com o seu consentimento), o Instituto Português de Oncologia de Coimbra está também a apoiar a identificação de potenciais beneficiários.

A presidente do Conselho de Administração do Instituto Português de Oncologia de Coimbra, Margarida Ornelas, sublinha que “à medida que a doença progride há um aumento das necessidades do doente, que podem passar por algo tão simples quanto preencher um formulário”.

De sublinhar que o programa funciona como um apoio complementar, não substituindo, como tal, os cuidados e apoios que o participante já esteja a receber por parte da equipa clínica ou de outras entidades. “É uma camada de apoio extra, que pode ajudar a pessoa a melhor navegar a vida com uma doença oncológica, contribuindo para um melhor acesso a cuidados de uma forma ainda mais centrada nas necessidades e preferências da pessoa”, explica a equipa da UC.

O EU Navigate é coordenado pela Bélgica (Vrije Universiteit Brussel) e conta também com a participação da Holanda, Irlanda, Itália e Polónia.

A equipa de investigação portuguesa está disponível através do e-mail eunavigate@uc.pt ou do contacto telefónico 914 401 661 para o esclarecimento de dúvidas sobre o programa ou sobre o formulário de recrutamento de participantes.