BioRom - Roma nosso lar: tradição (auto)biográfica e consolidação da(s) identidade(s)
Referência do Projeto: PTDC/LLT-OUT/28431/2017 (1.10.2018 a 30.09.2022)
O projeto visa uma análise da ideia de identidade(s) na herança cultural europeia, baseada em fontes (auto)biográficas, escritas no final da República e início do Império, que espelham valores de identidade e integração de culturas no mundo romano. Roma, pela aptência para a incorporação jurídica, cultural e religiosa (resultado de séculos de diplomacia), é foco privilegiado da análise, ponto de chegada e de partida, centro de fusão, consolidação e transmissão de culturas, arquétipo gerador de marcas basilares na essência do ser europeu. Pretende-se buscar nas fontes marcas de identidade e de alteridade na unidade designada genericamente (não exclusivamente) por greco-romana; examinar os processos de inclusão do Outro, com as metamorfoses operadas na (re)definição da(s) identidade(s); analisar reacções locais face ao paradigma universalizante. Assim, se fundamenta a índole integradora da Europa no pensamento sobre a génese de si própria, do seu espaço e da sua riqueza étnica e ética.
Objetivos
Pretende-se desenvolver estudos de autores e de figuras biografadas, que tratam a questão da inclusão e da identidade, essencial na cultura Romana e uma das razões do seu grande sucesso e estabilidade. Se o desafio para a Europa dos nossos dias se pode definir pela capacidade de acolher e incluir diversas culturas nacionais sem perder a identidade, um modelo de integração pode encontrar-se na formação da ideia da Roma, enquadrada no horizonte itálico e mediterrânico. Essa experiência histórica mostra-nos uma forma de usar esse influxo demográfico (força de trabalho, conhecimento, valores, religião) para construir uma identidade vasta, com as potencialidades, desafios e tensões que tal experiência comporta. É, portanto, determinante perceber a forma como esses textos reflectem a definição da identidade romana, entendida como o sentimento de pertença a uma comunidade partilhado pelos indivíduos que a integram, e cuja formação concilia perspectivas antagónicas: por um lado, evidencia um carácter ontológico (assente nos valores e na realidade 'comuns'), resultante da consciência da fronteira existente entre a romanidade e o Outro; mas, por outro lado, essa identidade constrói-se sob o signo da 'integração', que incorpora, desde a génese, a multiplicidade e a diferença.
A análise destes textos permitirá perceber a forma como as biografias dos grandes agentes históricos (em grande parte escritas já durante o império romano) reflectem o problema da incorporação na cultura, bem como estabelecer a rede de políticas e de metodologias usadas por esses agentes para a construção do projecto identitário comum aos vários povos integrados no espaço romano. Plutarco, sendo grego e escrevendo em grego, reflecte esse esforço entre dominadores e dominados.
O projecto, com enquadramento institucional no grupo de Estudos Latinos do CECH, reúne um conjunto de especialistas, em diferentes fases de carreira, das áreas de Estudos-Clássicos, de Arqueologia e de História Antiga e Bizantina, que têm trabalhado sobre biografia greco-latina no que respeita a estudos e traduções comentadas. O cruzamento dos saberes literário e filológico com os métodos da pesquisa histórica e arqueológica constitui a metodologia de base a ser utilizada na realização do plano de trabalho, orientado para a obtenção dos seguintes resultados:
- acrescentar ao quadro estabelecido pelos recentes estudos sobre os métodos de incorporação cultural levados a cabo no espaço de Roma Antiga os elementos particularmente desenvolvidos pela acção política dos grandes agentes históricos individualmente considerados;
- estabelecer o quadro de práticas e acções incorporativas desenvolvidas pelos vários agentes e definir o seu grau de produtividade ou de fractura para a implementação do quadro cultural comum;
- estudar casos específicos de tensões regionais face a uma cultura transversal.