Março de 2024 | Obesidade

19 março, 2024≈ 5 min read

Sob o mote de assinalar uma efeméride, um/a clínico/a e um/a investigador(a) com trabalho reconhecido em determinada área apresentam um conjunto de doze faixas à sua escolha numa playlist. Nesta rubrica mensal, pretende-se, por um lado, relevar uma temática de saúde e, por outro, dar a conhecer o que estas duas pessoas gostam de ouvir.

A cada mês de março assinala-se o Dia Mundial da Obesidade com o intuito de consciencializar a sociedade civil para esta doença e mobilizar políticas públicas preventivas e combativas. A obesidade está inserida no grupo das doenças crónicas não transmissíveis, que representam um problema de saúde pública e que têm em comum um conjunto de fatores de risco passíveis de serem modificados. De um modo geral, pouca atividade física, uma alimentação desequilibrada (rica em gorduras saturadas e açúcares adicionados), níveis elevados de stress desencadeadores da produção de cortisol, baixa qualidade de sono, predisposição genética, a toma de alguns tipos de fármacos bem como outras condições de saúde constituem-se como potenciadoras desta patologia. A obesidade ainda está relacionada com o desenvolvimento de outras patologias como hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e ainda problemas de saúde mental.

De acordo com o Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (2015), a obesidade já afetava 28,7% das 67,6% de pessoas com excesso de peso em Portugal. Um estudo da OMS/ Europa (2019) demonstrou que 1 em cada 3 crianças apresentava excesso de peso e a obesidade infantil tinha uma prevalência de 11,9%. A Federação Mundial de Obesidade (2023) estima que 39% dos portugueses com mais de 18 anos serão obesos no ano de 2035. A previsão a nível global é de que 51% dos adultos tenham excesso de peso ou obesidade e Portugal é considerado um dos 10 países com melhor preparação para combater esta patologia.

Paulo Matafome tem-se dedicado ao estudo de várias doenças metabólicas como a diabetes tipo 2 e a obesidade. Recentemente, publicou um estudo que contribuiu para a compreensão das alterações a nível molecular do tecido adiposo visceral em doentes com obesidade e diferentes grau de disfunção metabólica, desde a insulino-sensibilidade até à diabetes tipo 2. Outra investigação demonstrou como as alterações no hipocampo e no córtex visual resultantes destas doenças patologias podem ser detetadas em estágios iniciais antes que modificações irreversíveis ocorram. As alterações cerebrais podem acontecer também na descendência de mães expostas a fatores de risco associados à diabetes, como demonstrou num outro estudo.

Guilherme Tralhão é doutor (2004) e licenciado em Medicina (1989) pela Universidade de Coimbra. É duplamente mestre: em Medicina pela Université Paris-Sud Faculté de Médecine (2002) e em Investigação Biomédica pela Universidade de Coimbra (2014). É professor catedrático na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), instituição onde entre desempenhou funções enquanto subdiretor para a área de Ensino e Formação entre 2019 e 2023. É diretor do Serviço de Cirurgia Geral da ULS Coimbra e foi assistente no Hôpital Antoine-Béclère em Paris. Integrou o Conselho Pedagógico da FMUC.

Paulo Matafome é doutor em Ciências Biomédicas pela Faculdade de Medicina (2012), mestre em Biologia Celular (2008) e licenciado em Biologia (2005) pela Universidade de Coimbra. É investigador do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (iCBR-FMUC) e co-coordena o projeto Horizon Europe PAS GRAS. Desde 2023, desempenha funções enquanto professor auxiliar no Instituto Politécnico de Coimbra. Em colaboração com o ICNAS - Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde tem vindo a desenvolver novos biomarcadores imagiológicos precoces para as doenças metabólicas e as suas complicações. Tem colaborado com grupos de investigação dedicados ao estudo de mecanismos de disfunção do tecido adiposo e programação metabólica. Colabora ainda com vários Departamentos da ULS Coimbra, para recrutar doentes com obesidade e recolher sangue e tecido adiposo. É deputy editor-in-chief da revista Diabetology e associate editor na Frontiers.