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Diálogo entre ciências

(2012-2014)

Dialogo entre Ciências - Analise multidisciplinar das condições de navegabilidade e ancoragem durante o período Romano (Esposende)

REFERÊNCIA: PTDC/EPH-ARQ/5204/2012

O principal objectivo deste Projecto e conhecer as condições de navegabilidade e ancoragem durante o período romano entre os rios Ave e Neiva (incluindo o Cavado) para o abastecimento das áreas costeiras desta vasta região do conventus bracaraugustanus e da sua capital provincial, Bracara Augusta. A complexidade desta temática exige uma análise multidisciplinar, cruzando dados das geociências (geomorfologia, sedimentologia, estratigrafia, química) e ciências naturais (paleoecologia) com testemunhos das ciências sociais (arqueologia, cartografia histórica e fontes literárias e epigráficas).

No que diz respeito aos indicadores geomorfológicos, estratigráficos e sedimentológicos, pretendemos analisar as condições paleoambientais da zona costeira entre aqueles estuários durante o período romano. Estudos anteriores sugerem que os estuários dos rios Cávado e Ave tenham sido mais amplos e reentrantes do que na actualidade (Granja e Morais, 2010) e que zonas húmidas ocupavam áreas deprimidas ao longo da costa (Granja 1990, 1997, 2002).

Estas alterações na paisagem coincidem com significativas mudanças climáticas, que se repercutiram na posição do nível relativo do mar, o que e perceptível nalguns depósitos lagunares documentados na zona costeira a norte do estuário do Cavado, na qual foram encontrados testemunhos de época romana. Uma concentração destes vestígios foi encontrada numa praia a norte de Esposende correspondente a um provável porto romano. Foi encontrado um grande número de fragmentos de ânforas (em particular do tipo Haltern 70) e de cetárias, provavelmente relacionadas com a existência de uma uilla romana. A importância destes achados arqueológicos parece ir de encontro as fontes literárias e epigráficas alusivas a cidade romana de Bracara Augusta que referem a existência de um golfo marinho e que são inequívocas quanto a importância comercial desta cidade.

O rio Cavado teria a sua foz para sul da actual, em Fão, onde dados geomorfológicos e sedimentológicos parecem indicar a existência de um canal. E neste âmbito que nos parecem relevantes os dados da cartografia de época moderna (em particular a carta de João Teixeira I de 1648), que representam a foz do rio Cavado em Fão e a desembocadura do Ave mais ampla, em forma de golfo, muito diferente da actual configuração.

As questões levantadas nos pontos acima referidos corroboram os dados obtidos relativamente as condições meteorológicas e oceanográficas que sugerem para o período romano distintas condições de navegabilidade, mais adequadas do que as actuais.

Com este projecto pretende-se dar resposta aquelas questões, o que implica proceder-se a uma reconstituição paleo-ambiental integrada e alargada, com base na análise geomorfológica, sedimentológica-estratigráfica, paleoecológica e radiocronológica, a qual permitira inferir informações sobre o clima, o nível do mar, a hidrodinâmica e o abastecimento sedimentar durante o período romano.