“Sou um tipo que faz coisas”

Cruzeiro Seixas | 1920-2020

03 março, 2021≈ 4 mins de leitura

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Artur do Cruzeiro Seixas, um dos nomes maiores do Surrealismo português e europeu, nasceu a 3 de dezembro de 1920, na Amadora.

Frequentou, a partir de 1935, a Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, onde conheceu Marcelino Vespeira, António Domingues, Fernando José Francisco, Fernando Azevedo, Júlio Pomar e, em especial, Mário Cesariny, com quem manteve uma longa e intensa amizade.

Depois de uma breve incursão pelo Neorrealismo, Cruzeiro Seixas ligou-se ao movimento surrealista. Veio a integrar o Grupo Surrealista de Lisboa, fundado em 1947 e  liderado por Cesariny, de que se tornou uma das figuras de destaque, juntamente com António Maria Lisboa, Pedro Oom e Carlos Calvet, entre outros.

O fascínio das viagens levou-o a ingressar, em 1950, na Companhia Nacional de Navegação e a viajar até às antigas colónias, percorrendo a Índia e o Extremo Oriente, até Macau e Timor. Acabou por fixar-se, em 1951, em Angola. Aí permaneceu durante catorze anos, visitando o interior em descoberta da arte indígena, o que lhe permitiu reunir uma valiosa coleção etnográfica. Em Angola, desenvolveu também uma parte significativa da sua obra, artística e literária. Em Luanda realizou mesmo a sua primeira exposição individual, a 24 de outubro de 1953, nos Salões do Cinema Restauração. Saiu de Angola em 1964, para fugir à guerra colonial.

Após o regresso a Lisboa dirigiu, entre 1968 e 1974, a Galeria São Mamede, e aí realizou diversas exposições de artistas, como Mário Cesariny, Júlio, Vieira da Silva, Mário Botas ou Henri Michaux.

Nos anos seguintes participou em diversas exposições individuais e coletivas, como na XII Exposição Surrealista de S. Paulo (em 1969), numa exposição com Raúl Perez e Philip West (em Amsterdão, em 1977), na exposição Presencia Viva de Wolfgang Paalen (no Museu do México, em 1979) e, em 1984, em Montreal, na coletiva Le Surréalisme Portugais, entre outras.  

Em 1993, Cruzeiro Seixas doou uma parte dos seus trabalhos à Biblioteca Nacional; em 1999, fez à Fundação Cupertino de Miranda a doação da sua valiosa coleção, com vista à criação do Centro de Estudos do Surrealismo e do Museu do Surrealismo.

Em 1986, publicou o livro de poemas “Eu falo em chamas”, com ilustrações surrealistas e uma introdução de André Coyné. No mesmo ano, foi publicado pela Fundação Cupertino de Miranda um álbum com a reprodução de 230 obras, de vários autores, da coleção de Cruzeiro Seixas adquiridas por esta fundação.

O álbum de desenhos e poemas “O que a luz oculta” foi editado em 2000, ano em que foi publicado também, pelo Centro de Estudos do Surrealismo, “Retrato sem rosto”, que reuniu em livro os seus poemas.

Artista multifacetado, Cruzeiro Seixas repartiu a sua atividade criativa pelo desenho, pintura, produção de objetos, execução de cenários para a Companhia Nacional de Bailado e para o Bailado Gulbenkian e ainda a ilustração de livros assinados por autores como Mário Cesariny, Mário Henrique Leiria ou Natália Correia.

Foi homenageado em 2018 pelo Presidente da República e pelo Centro Português de Serigrafia, que editou durante muitos anos a sua obra e que lançou, nesta ocasião, o “Catálogo de Obra Gráfica e Múltiplos de Arte”.

A sua obra está representada nas coleções de diversas instituições, como a Biblioteca Nacional de Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação Cupertino de Miranda, o Museu do Chiado e o Museu Nacional de Machado de Castro, entre outras.

Artur do Cruzeiro Seixas faleceu em novembro de 2020, a poucos dias de completar o seu centenário.

- Exposição bibliográfica evocativa  na Sala do Catálogo da Biblioteca Geral -


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