NATAL

Uma Mostra Icono-Bibliográfica (Sécs. XIII - XXI)

17 dezembro, 2020≈ 5 mins de leitura

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A celebração do Natal organizada pela Liga dos Amigos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (LIBUC) e pela Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) ganhou a forma de mostra de livros e gravuras que foram seleccionadas num sincero acto de congratulação.

Do rico e vastíssimo património documental e bibliográfico da BGUC, mundialmente reconhecido, apresenta-se uma ínfima parte só compensada pelo importante valor, por exemplo, dos códices medievais, bem como pela raridade dos impressos e gravuras e ainda pelo alto coturno dos autores das obras expostas.

Assim, esta Mostra pretende ser tão-só uma “porta aberta”, o mesmo é dizer, um convite para aqueles que quiserem experimentar as múltiplas direcções a que um livro nos pode conduzir.

Entendemos dividi-la em quatro núcleos, o mesmo número das estações do ano, num apelo a que haja na passagem de um para o outro, a compreensão da cronologia; do suporte e da função da escrita; do manuscrito; do impresso; enfim das representações literárias, e artísticas mais belas, que ao longo dos séculos o Natal inspirou.

Nos Livros Litúrgicos, dá-se a primazia à Bíblia Sagrada, manuscrito do século XIII, cujos cadernos são em velino com o índice em pergaminho, da cor do “marfim velho” nas palavras de Aquilino Ribeiro. O copista hábil “pintou-a”, em duas colunas, com tinta negra cujo viço se mantém. Por sua vez, o Livro de Horas de Coimbra, de origem flamenga, e datável de inícios do século XVI, é, também, todo escrito sobre pergaminho (quase velino) e iluminado com tinta ou folha de ouro, o que transforma cada fólio num raro e precioso exemplo de crisografia.

Com data de 1558, incluímos ainda um missal, o Missale Bracarensis Ecclesiae. Impresso, em papel, descobrem-se, com facilidade, as influências dos manuscritos medievais cuja matriz perdura ainda por todo o século XVI (duas colunas, capitulares, encadernação com pregos para não danificar a decoração e fechos).

Entretanto, não quisemos deixar de incluir várias gravuras, dos séculos XVI-XIX, cujos autores  centraram o seu talento na representação das figuras da Virgem Maria, do Menino e de São José.

Merecedores da nossa atenção, são, também, uns livrinhos manuscritos com temas natalícios, originais e inéditos, que aguardam leitura e estudo. Destaca-se o Auto dos Reis Magos, de autor anónimo, do século XVIII.

A Mostra prossegue com uma antologia de escritores, nacionais e estrangeiros, que têm descrito o Natal das formas mais distintas e belas. De Bocage a Eça, de Machado de Assis a Sophia de Mello Breyner Andresen, de Miguel Torga a Charles Dickens, notável autor oitocentista e influenciador da literatura natalícia, de Fernando Pessoa a Mia Couto e a José Tolentino Mendonça.

Mas falamos ainda de literatura no núcleo O Natal à Mesa. No agasalho da nossa memória estão, sem dúvida, as iguarias doces ou salgadas desta época tão singular. Os sonhos, o bolo-rei, as rabanadas, os beilhós, as broinhas, o bacalhau e o peru, entre outros, e as formas de os confeccionar, podem identificar uma região, uma família, uma cozinheira, para além de todas constituírem um inquestionável património nacional. Felizmente, obras clássicas como O Livro de Pantagruel ou A Cozinha Tradicional Portuguesa mantêm vivas pela escrita a pureza velha de largas dezenas de receitas de Natal a que, nos nossos dias, se têm juntado outras opções e sabores.

No último núcleo da Mostra, destacamos a literatura infantil. Os autores, ora nos conduzem à devoção ao Menino Jesus, ao gosto pelo Presépio, ora, influenciados por natais de outras paragens e confissões religiosas, nos levam às renas das florestas da Escandinávia, à árvore de Natal e, sobretudo, à figura do Pai Natal.

Todos os livros têm um sortilégio inigualável reforçado por música, efeitos luminosos, cores brilhantes, figuras que se movimentam entre contos, de sonhos, de alegrias e de sofrimentos que, também, são Natal.

Nesta singela Mostra, podemos ver, com o poeta franciscano Fr. Lopes Morgado, que “No Natal não há via única para a gruta e mesmo os caminhos já percorridos não dispensam nem o nosso andar nem a nossa procura de caminhos por fazer”.

Natal 2020

Maria José Azevedo Santos

Catálogo
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