Mulheres da UC na Ciência: Ana Rita Silva

Ana Rita Silva é investigadora no Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC e exerce neuropsicologia clínica. É a convidada de julho da rubrica Mulheres da UC na Ciência.

MC
Marta Costa
AB
Ana Bartolomeu
01 julho, 2024≈ 2 mins de leitura

© UC l Ana Bartolomeu

Ana Rita Silva viu-se desde cedo a seguir o caminho da Psicologia, e a Universidade de Coimbra “não foi só a primeira opção, como a única”. Já a gerontologia surgiu pelas relações pessoais. “Muito da nossa personalidade vem da nossa história e, de alguma forma, tenho bons exemplos e boas histórias com pessoas mais velhas”, explica a investigadora do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC).

Chegou, também com naturalidade, à neuropsicologia. Uma área que "bebe de muitas fontes”, garante Ana Rita Silva. Numa lógica translacional, acrescenta a investigadora, uma dessas é a neurociência, ao “transformar a informação e a ciência básica em coisas que podem ser aplicadas" na prática clínica.

Articular a investigação com a atividade clínica, admite, “é difícil”, mas, quase por princípio, defende que “apenas conseguiria fazê-lo se conseguisse manter a ligação ao terreno”. Numa área “que ainda é muito insipiente em termos de investigação,” que é a intervenção neuropsicológica no envelhecimento, ter “contacto com a realidade e perceber as necessidades” é muito importante. Ana Rita Silva sublinha que é “a partir do trabalho clínico que surgem as questões”.

Sente que o doutoramento foi o seu primeiro grande estudo “e o primeiro da FPCEUC ligado à estimulação cognitiva na demência”. Aqui, elaborou “um programa de treino cognitivo papel e lápis” que hoje ainda "é disseminado”. Ana Rita Silva defende que "os idosos são todos diferentes e nem todos os programas se encaixam em todos os perfis“. Através de uma “comparação de vários métodos e consoante o perfil dos pacientes”, foi possível perceber alguns dos métodos mais úteis e personalizados, para as necessidades das pessoas.

Mais à frente no seu percurso encabeçou o Reminder, um programa de intervenção neuropsicológica dirigido a pessoas com 60 ou mais anos. "O objetivo é promover a mudança comportamental", explica. Tendo como base de trabalho "o conhecimento para ajudar as pessoas a decidir mudar, a ter objetivos e decidir o que é relevante mudar sobre estilos de vida", o programa é feito em grupo, acrescenta a investigadora. E, com os dados recolhidos, acredita que há "boas expetativas para a fase que aí vem, que vai alargar a resposta a outros contextos".

Para Ana Rita Silva, o que falta agora é “recrutar” mais estudantes para a área da neuropsicologia clínica. Em particular, para “a reabilitação e intervenção", ramos que "têm muitas pontes com a psicologia clínica e que fazem esta simbiose perfeita com a neurociência e as práticas da psicoterapia”. A FPCEUC, de acordo com a investigadora, é “um contexto privilegiado para um investimento maior nesta área”.

Ana Rita Silva é investigadora doutorada e professora auxiliar convidada na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) e é membro integrado e coordenadora do grupo de investigação “Neuropsychological Assessment and Interventions” no Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da UC. É neuropsicóloga clínica, com a especialidade avançada em Neuropsicologia e em Psicogerontologia Clínica atribuída pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, e exerce atividade clínica no Centro de Prestação de Serviços à Comunidade da FPCEUC na consulta de Reabilitação Neuropsicológica.

Realizou o mestrado integrado em Psicologia Clínica e da Saúde, na sub-área de Psicogerontologia Clínica, e concluiu o doutoramento em Neuropsicologia em 2016, realizando uma investigação na área das intervenções de estimulação cognitiva na doença de Alzheimer inicial.

Foi investigadora doutorada entre 2018 e 2021 no Centro de Neurociências e Biologia Celular, onde trabalhou no sentido de compreender melhor as alterações cognitivas em idosos internados. Desde 2021 que tem vindo a conduzir investigação em neuropsicologia aplicada, continuando a investir na área do envelhecimento com o desenvolvimento de um programa neuropsicológico de prevenção da demência REMINDER.

Paralelamente, tem desenvolvido investigação na criação e validação científica de ferramentas de estimulação cognitiva e multidimensional para pessoas com lesão cerebral (AVC, TCE, tumores cerebrais), sendo membro do Neuropsychological Rehabilitation Special Interest Group da Federação Mundial de Neurorreabilitação.

Desde 2024, é membro do Seminário de Jovens Cientistas da Academia de Ciências de Lisboa e está envolvida em diversos órgãos de gestão académica, sendo a representante dos investigadores na Assembleia de Faculdade e no Conselho Científico da FPCEUC e membro da Comissão para a Ética e Deontologia.