Estudo revela que o turismo académico internacional cresceu 46% em Portugal em oito anos, mas com assimetrias regionais

A investigação da Universidade de Coimbra indica que atributos como a educação de qualidade, a segurança, o multiculturalismo, o custo de vida acessível ou as estabilidades política, económica e social contribuíram para que Portugal testemunhasse um aumento de estudantes em mobilidade internacional.

CR
Catarina Ribeiro
20 junho, 2024≈ 7 mins de leitura

Universidade de Coimbra.

© UC | Paulo Amaral

O turismo académico internacional tem vindo a crescer em Portugal, revela um estudo da Universidade de Coimbra (UC). Em particular, entre os anos letivos 2013/2014 e 2019/2020 o país registou um aumento de 46% no que respeita aos turistas académicos internacionais, que chegaram a Portugal para frequentar o ensino superior por períodos inferiores a um ano. A investigação aponta, no entanto, a existência de assimetrias nesta dinâmica turística: as instituições de ensino superior mais afastadas dos grandes centros urbanos receberam menos estudantes internacionais em mobilidade.

No artigo científico Exploring Higher Education Mobility through the Lens of Academic Tourism: Portugal as a Study Case, publicado na revista Sustainability, a equipa de investigação nota que “Portugal experienciou um crescimento notável”. “Atributos como a educação de qualidade, a segurança, o multiculturalismo, o custo de vida acessível ou as estabilidades políticas, económicas e sociais contribuíram para que Portugal testemunhasse um aumento de estudantes em mobilidade entre 2013 e 2020”, destaca a docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e investigadora do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da UC, Cláudia Seabra.

Este aumento só foi travado pela pandemia, período durante o qual foi registada uma diminuição do número de estudantes internacionais em mobilidade no país: no ano letivo 2019/2020 eram 60 679, enquanto que no ano seguinte (2020/2021) se matricularam 55 137 estudantes. “Apesar deste decréscimo, parece-nos que o impacto desta diminuição pode ter sido menos grave do que o esperado”, refere a coordenadora do estudo e estudante de doutoramento da FLUC, Dina Amaro.

Apesar desta quebra, os “turistas académicos mostraram ser mais resilientes do que os turistas convencionais, informação que nos parece crucial para o planeamento e gestão dos destinos turísticos”, sublinha a coautora do artigo, docente da FLUC e investigadora do CEGOT, Ana Maria Caldeira. “Esta resiliência poderá estar possivelmente relacionada com o comprometimento deste tipo de turistas com as suas ambições pessoais no que respeita aos estudos, o que supera o impacto imediato da pandemia”, acrescenta.

As autoras reforçam ainda a importância desta dinâmica da mobilidade de estudantes para o Turismo no país: “apesar de representar uma pequena percentagem do total de turistas que visitam Portugal, a sua importância aumentou, especialmente devido à duração média das estadias dos estudantes, que é maior do que a dos turistas convencionais”. “Acresce ainda que estes estudantes não só frequentam cursos, como também visitam o país (sozinhos ou com familiares e amigos), contactam com residentes, aprendem a língua e a cultura, tendo, assim, um impacto positivo na diversidade cultural e sustentabilidade dos destinos”, realçam.

Esta investigação considerou como turistas académicos internacionais os “estudantes sem nacionalidade portuguesa que frequentaram cursos em Portugal durante um período de curta duração (menos de um ano), que são integrados na categoria de turistas”, contextualizam as investigadoras. Foram analisados dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) e do Instituto Nacional de Estatística (INE), nomeadamente informações sobre todos os estudantes matriculados nos vários cursos e ciclos de estudos oferecidos pelas instituições de ensino superior portuguesas. “Os turistas académicos em Portugal (ou seja, os estudantes que estão no país por períodos inferiores a 12 meses) são predominantemente oriundos de outros países da Europa”, contextualiza a coordenadora do estudo.

Já os estudantes internacionais que passam mais de 12 meses em Portugal – por norma, para frequentar ciclos de estudos completos, ou seja, cursos de licenciatura, mestrado ou doutoramento – são maioritariamente oriundos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Por conta de a estadia ser mais prolongada, não integram a mesma categoria de análise. No entanto, o estudo revela que “entre os anos letivos 2013/2014 e 2019/2020 Portugal teve um aumento de 251% nos estudantes internacionais de ‘grau’”, destaca Cláudia Seabra.

Relativamente aos desafios que o turismo académico enfrenta e enfrentará, esta investigação chama a atenção para “o padrão de crescimento assimétrico pelo país, o que desafia a noção de desenvolvimento regional equilibrado”, refere Cláudia Seabra. Esta assimetria pode ser enfrentada “com medidas específicas empreendidas pelas Instituições de Ensino Superior (IES) e pelas autarquias. Por exemplo, incentivos como bolsas de estudo e descontos em alojamento podem atrair um número significativo de turistas académicos. Estratégias abrangentes para promover diversas regiões e cidades em Portugal, mostrando as suas características e atrações únicas, atrairão igualmente um público mais amplo”, revelam as investigadoras.

São também desafios a criação de estratégias para envolver os turistas académicos nas comunidades locais e destinos de forma a contribuírem para a sua sustentabilidade. “As IES desempenham um papel crucial na promoção da sustentabilidade dos destinos académicos, incentivando e adotando práticas sustentáveis ​​entre os seus alunos, tais como a redução do consumo de energia, a minimização do desperdício e a implementação de medidas ecológicas nos campus”, refere Dina Amaro.

A estudante da FLUC acrescenta ainda que “as IES e as autarquias poderiam contribuir ainda mais, promovendo parcerias com comunidades locais para garantir que o turismo académico beneficie o destino, através do incentivo na colaboração em projetos comunitários, programas de intercâmbio cultural ou iniciativas de voluntariado; incentivar os estudantes a apoiar empresas, mercados e artesãos locais, promovendo produtos, serviços e experiências culturais locais. Isto, por sua vez, contribui para o desenvolvimento económico da comunidade anfitriã”.

“Do ponto de vista da gestão, o turismo académico internacional traz vantagens competitivas para os destinos, especialmente no que respeita à mitigação da sazonalidade, à sustentabilidade e à inovação, uma vez que traz aos países pessoas, na sua grande maioria jovens ou jovens adultos, com elevados níveis de formação, durante longos períodos. Por vezes, estes estudantes podem inclusive decidir pela sua integração no mercado de trabalho no nosso país em áreas estratégicas”, remata Cláudia Seabra.

Este estudo foi realizado no âmbito do Doutoramento em Turismo, Património e Território da Faculdade de Letras da UC, pela estudante Dina Amaro, primeira autora do artigo científico, e contou com a colaboração das docentes da FLUC e investigadoras do CEGOT, Ana Maria Caldeira e Cláudia Seabra.

O artigo científico está disponível aqui.