Estudo publicado na Science propõe que o planeamento marinho na Antártida possa ser modelo para o oceano global

Neste estudo, com a participação da Universidade de Coimbra, é proposta uma estratégia para envolver todas as partes interessadas na governança do Oceano Antártico através de um processo de ordenamento do espaço marinho inteligente do ponto de vista climático.

07 junho, 2024≈ 4 mins de leitura

© José C. Xavier

Um novo estudo publicado na prestigiada revista Science propõem uma estratégia para envolver todas as partes interessadas na governança do Oceano Antártico através de um processo de ordenamento do espaço marinho (OEM) inteligente do ponto de vista climático.

O artigo científico Taking climate-smart governance to the high seas tem como coautor o professor associado do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DCV/FCTUC) e investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), José C. Xavier.

O Oceano Antártico é fundamental para o funcionamento do nosso planeta: influencia o nível do mar, regula o clima, e impulsiona a circulação oceânica global. Com o aumento de atividades humanas como o turismo e a pesca comercial, juntamente com os impactos das alterações climáticas, representam uma ameaça para a resiliência dos ecossistemas da região Antártica.

O OEM inteligente do ponto de vista climático, que nunca foi desenvolvido em áreas fora de jurisdição nacional (Alto Mar), pode fazer face aos impactos das alterações climáticas a uma escala regional — mais vasta — e de forma adaptativa, para assegurar a resiliência ecológica e social necessárias no longo prazo.

“As Partes do Tratado da Antártida têm uma oportunidade histórica de decidir desenvolver uma estratégia de OEM inteligente do ponto de vista climático para o Oceano Antártico, sendo pioneiras no desenvolvimento da primeira abordagem de OEM no Alto Mar”, diz a líder do estudo, professora auxiliar convidada Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, investigadora do MARE e investigadora honorária da Universidade de Oxford (Reino Unido), Catarina Frazão Santos. “Além disso, o OEM no Oceano Antártico pode servir como modelo para a implementação mais alargada desta abordagem em águas internacionais e nacionais em todo o planeta”, acrescenta.

Os investigadores recomendam quatro pontos a serem considerados pelas Partes do Tratado da Antártida, cuja implementação poderá ser assegurada através da criação de grupos de discussão dedicados: (i) diversificar tipos de informação e conhecimento, (ii) ter uma visão para o futuro, (iii) garantir flexibilidade e dinamismo, e (iv) centralizar a saúde do oceano na tomada de decisão.

Juntamente com o Ártico, a Antártida é “ponto de partida” para os impactos das alterações climáticas a nível global. Ao mesmo tempo, possui uma estrutura de governança internacional única — o Sistema do Tratado da Antártida —, forte o suficientemente para assegurar a implementação de um processo de OEM inteligente em termos climáticos, com base em décadas de investigação científica.

“O Sistema do Tratado da Antártida reúne as partes interessadas chave para que a implementação do OEM na região num contexto de cooperação internacional seja bem-sucedida”, diz José C. Xavier, que, como chefe da delegação de Portugal nas reuniões do Tratado da Antártida na Índia este ano, apresentou um artigo sobre este tema com vários países a mostrarem o seu apoio.

O desenvolvimento de um OEM inteligente do ponto de vista climático no Oceano Antártico pode guiar decisões sobre como conservar e utilizar de forma sustentável os recursos marinhos num contexto de mudança, constituindo um modelo para águas internacionais em todo o planeta.

O artigo científico está disponível aqui.