Covid-19: estudo revela que as pessoas perfecionistas sofreram mais durante a pandemia

O estudo, o primeiro a nível internacional a avaliar o papel do perfecionismo no sofrimento psicológico durante a pandemia de Covid-19, foi realizado por investigadores do Instituto de Psicologia Médica da FMUC.

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Cristina Pinto
06 outubro, 2021≈ 4 mins de leitura

© UC | Cristina Pinto

Um estudo pioneiro conduzido por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) concluiu que as pessoas perfecionistas sofreram mais durante a pandemia de Covid-19.

Este estudo, o primeiro a nível internacional a avaliar o papel do perfecionismo no sofrimento psicológico durante a pandemia de Covid-19, foi realizado por investigadores do Instituto de Psicologia Médica da FMUC, dirigido pelo professor catedrático António Macedo, em colaboração com a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC).

Segundo os resultados da investigação, publicada na revista científica Personality and Individual Differences, com o título “COVID-19 psychological impact: The role of perfectionism”, as pessoas mais perfecionistas «tiveram mais medo da COVID-19, pensaram mais repetida e negativamente sobre a pandemia e as suas consequências e isso levou a que tivessem mais sintomas de depressão, ansiedade e stress», explica Ana Telma Pereira, docente da FMUC e coordenadora do estudo.

"As pessoas perfecionistas têm risco elevado de sofrer de ansiedade, depressão e stress", Ana Telma Pereira

O perfecionismo é um traço de personalidade caracterizado pela tendência para estabelecer padrões de desempenho excessivamente elevados, «acompanhada de (auto)avaliação demasiado crítica e evitamento de falhas. As pessoas perfecionistas têm risco elevado de sofrer de ansiedade, depressão e stress», esclarece.

A amostra do estudo foi constituída por 413 adultos, homens e mulheres, da população portuguesa, recrutados entre setembro e dezembro de 2020. Embora as mulheres tenham demonstrando níveis mais elevados de «perfecionismo (na sua dimensão autocrítica), pensamento repetitivo negativo (preocupação e ruminação) e perturbação psicológica do que os homens, as três facetas do perfecionismo que avaliámos, e que são atualmente as consideradas mais relevantes (perfecionismo rígido, autocrítico e narcísico), tiveram este efeito de aumentar a perturbação psicológica, independentemente do género», realça Ana Telma Pereira.

A investigadora e docente explica que as reações psicológicas a pandemias dependem muito da personalidade da pessoa, uma vez que «são influenciadas pelos traços de personalidade, pois estes determinam a forma como interpretamos as situações e, portanto, as emoções e comportamentos que geram».

«Este foi o primeiro estudo publicado na literatura científica internacional a comprovar empiricamente o impacto negativo do traço de personalidade nas reações psicológicas à pandemia de COVID-19. Mais concretamente, verificámos que as diversas componentes do perfecionismo, quer intrapessoais (o próprio exigir-se a excelência), quer interpessoais (entender que os outros lhe exigem perfeição e, também, exigi-la aos outros), geraram mais ansiedade, depressão e stress face à pandemia», especifica.

Tendo em conta que o perfecionismo tem vindo a aumentar significativamente «nas duas últimas décadas, principalmente entre os jovens, falando-se mesmo de uma “epidemia de perfecionismo”», Ana Telma Pereira nota que os resultados deste estudo evidenciam que «o perfecionismo deve ser tido em conta na avaliação, prevenção e tratamento do impacto psicológico da(s) pandemia(s). É difícil alterar a personalidade, mas é possível ajudar as pessoas a reconhecer os seus traços e a desenvolver formas de lidar com os acontecimentos de vida que sejam menos negativamente influenciadas por eles».

Além de Ana Telma Pereira e António Macedo, a equipa integra Carolina Cabaços, Ana Araújo, Ana Paula Amaral e Frederica Carvalho.

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