Reportagem na Escola de Farmácia, que queria voltar a ser faculdade

20 maio, 2024≈ 4 mins de leitura

Diário de Coimbra, 19 de maio de 2024

O ensino farmacêutico na Universidade de Coimbra, o mais antigo do país, vivia no ano de 1935 uma fase de constrangimentos financeiros e lutava pe­la elevação do seu estatuto.
A Escola de Farmácia anexa à Faculdade de Medicina, cria­da em 1836, seria em 1921 promovida a faculdade, tal como as congéneres de Lisboa e Por­to. No entanto, em 1928 foi decretada a sua extinção, ressurgindo porém em 1932, menorizada sob a designação de Escola Superior de Farmácia.
Instalada desde 1915 no Palácio dos Melos, na Alta universitária, desta unidade de ensino «saíram os melhores farmacêuticos portugueses», sublinhou o Diário de Coimbra nu­ma reportagem publicada em duas edições, a 9 e 10 de julho de 1935, evidenciando as razões para a Escola Superior de Farmácia merecer a «categoria de faculdade».
«A Escola Superior de Farmácia de Coimbra fez parte integrante da Universidade, mas hoje, perdida a categoria de faculdade, está-lhe apenas anexa. As verbas que lhe são destinadas não chegam, ficam aquém das suas nobres e legítimas aspirações. Querendo, instante a instante, acompanhar os progressos que a farmácia alcança dia a dia, vê cerceados os seus desejos», lia-se na primeira página do jornal de 9 de julho.
Enfrentando as dificuldades e «estimulados pelo anseio veemente de conquistar a categoria que possuiu», a direção e o corpo docente da escola trabalhavam «ativa, persistente e afanosamente, embora sem alardes, no sentido de aos créditos de épocas passadas juntar novos créditos», anotou o redator.
Acompanhou a visita do jornalista às instalações o próprio diretor, o médico e professor Cipriano Diniz. «A visita começou pelas aulas. Dois salões apenas. A seguir, percorremos os laboratórios, e estivemos no gabinete do diretor, dependência exígua, arrancada às grossas paredes do solarengo edifício, a ganhar alento para alcançar outras dependências que não é possível extrair ao velho palácio e que, por essa razão, tiveram de ir instalar-
-se longe da escola...», apontou.
Remetendo o resto do relato para o dia seguinte, o autor recomendava à atenção dos leitores «a melhor e mais bem montada farmácia que existe em Portugal».
«A Escola Superior de Farmácia de Coimbra possui os mais bem apetrechados laboratórios do país onde o ensino prático é modelar», considerava, a abrir o segundo artigo.
«Queira o leitor fazer o favor de nos acompanhar. A farmácia, propriamente dita, e que fica no rés-do-chão, é modelar, obedecendo aos mais modernos requisitos das instalações do género. O aluno que a frequenta fica deste modo completamente habilitado, não só como diretor técnico, por conseguinte, um excelente boticário, como ainda um farmacêutico que, na vida prática, sabe montar e dirigir a sua farmácia. Todos os laboratórios estão admiravelmente apetrechados. Não falta ali nada. Quem frequenta a Escola Superior de Farmácia de Coimbra sai, teórica e praticamente, um farmacêutico completo, para quem não há dificuldades de espécie alguma», avaliou o repórter, descrevendo a se­guir as várias dependências da escola, algumas acolhidas noutros espaços universitários, bem como o Horto Botânico – um «jardim encantador», no Palácio dos Melos, «palmo e meio de terreno» onde a escola «cultiva e extrai tudo quanto lhe é preciso».
«Dissemos que a Escola Superior de Farmácia pretende ser de novo faculdade, pela razão pura e simples de obter as dotações que lhe permitam acompanhar o desenvolvimen­to que se observa e regista, constantemente, na ciência farmacológica. Por coi­sa alguma mais, visto que, quan­to ao resto, está pronta, de um momento para outro, a ser o que já foi», rematava o artigo.

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