FFUC irá testar a desmaterialização dos exames escritos

13 maio, 2024≈ 6 mins de leitura

Para Carlos Cavaleiro, subdiretor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), a revolução tecnológica que, desde meados dos século XX, tem trazido «coisas absolutamente inesperadas », com uma progressão constante, chegou agora ao que acredita ser «uma nova era», com os computadores a permitirem «fazer aquilo que é humanamente impossível». A Inteligência Artificial, transversal a vários setores de atividade, também tem impacto no mundo farmacêutico, em particular na investigação e gestão do medicamento. De que forma? Na investigação, afirma, irá traduzir-se «numa revolução extraordinária» ao serem colocadas máquinas «a procurar e a processar um conjunto de informações e de dados» com algoritmos «que têm a capacidade de fazer a uma grande velocidade». Também o domínio do medicamento, desde a produção (com a rastreabilidade a assegurar os padrões de qualidade), utilização e acompanhamento no mercado (estando alerta para eventuais reações adversas ou efeitos secundários), vai beneficiar da Inteligência Artificial.

A Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra não é alheia a toda a esta evolução, muito pelo contrário. Tem procurado uma adaptação contínua às novas tecnologias, privilegiando, porém, a Inteligência Natural porque, diz Carlos Cavaleiro, «não queremos ser substituídos pela Inteligência Artificial». Assim, nos métodos pedagógicos atuais já estão incorporadas técnicas que recorrem a tecnologias de informação em contexto de aula, com algumas unidades curriculares a serem mesmo ministradas à distância. A este propósito, refere que na FFUC há um curso de especialização que funciona «100% por via remota e no qual os conteúdos foram trabalhados para a utilização de ferramentas apropriadas para essa comunicação».

Com uma oferta formativa cada vez mais diversificada, a Faculdade de Farmácia tem mesmo um conjunto de objetivos que deseja cumprir de forma a corresponder à evolução tecnológica e que passam, por exemplo, pela desmaterialização dos exames já na próxima época da avaliação (ainda no presente ano letivo), ainda que seja apenas, e para já, um ensaio piloto. «O tradicional exame em papel, a curto-médio prazo, será substituído integralmente pelos exames em computador» pelo que Carlos Cavaleiro reconhece toda a pertinência à realização deste projeto-piloto. Vantagens? «Desde logo tornar o processo mais rigoroso» tanto no que diz respeito às questões que são colocadas no exame, avaliadas quanto à sua qualidade, quanto à possibilidade de ser feito um tratamento estatístico do sucesso dos estudantes em cada um dos tópicos sujeito a avaliação. Para além disso, o aluno ficará a saber de imediato o resultado (se obteve aprovação ou não). A correção e respetiva classificação da prova passará, assim, a ser feita «por um algoritmo que tem critérios muito bem definidos de correção», explica. Este projeto é, porém, muito complexo, exigindo, desde logo, dotar «as

salas com segurança cibernética», com computadores validados e devidamente isolados do mundo exterior, e ainda bastidores que garantam uma maior capacidade de utilização da rede informática, em simultâneo, por grupos de 200 ou 250 estudantes como é o caso de algumas disciplinas da Faculdade de Farmácia.

Carlos Cavaleiro realça ainda que o Conselho Científico da FFUC, do qual também faz parte, está atento e consciente de toda esta evolução tecnológica, e por isso, mais cedo ou mais tarde, será inevitável a adaptação dos planos de estudo àquilo que são as realidades das novas técnicas disponíveis, passo que será dado certamente depois de concluída a revisão (em curso) pela Comissão Europeia, da Diretiva de Acesso ao Exercício da Atividade Farmacêutica no espaço europeu. «Essa Diretiva vai ser preciosa para a adequação dos planos de estudo e, no que for possível, a Faculdade de Farmácia tentará antecipar essas obrigações, fazendo as adaptações necessárias», garante, reconhecendo que a aplicação das novas tecnologias à atividade farmacêutica será uma inevitabilidade. «Não posso dizer se é para o ano, se é daqui a dois anos ou daqui a um mês, mas temos a plena consciência de que será uma inevitabilidade» face «ao desenvolvimento exponencial das tecnologias de informação». Nesta nova era, a FFUC gostava igualmente de estar apetrechada com uma sala híbrida que proporcione «uma interatividade plena», com maior qualidade e em tempo real entre todos os intervenientes, estejam eles presentes fisicamente ou digitalmente.

Já no que diz respeito à investigação que é feita na Faculdade de Farmácia, os métodos computorizados não são dispensados, seja através do uso de algoritmos, ferramentas mais avançadas ou ferramentas mais comuns. «A nossa investigação pode dizer-se que é atual» com os indicadores da investigação científica da Faculdade a atestarem isso mesmo. «A Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra está entre as 100 melhores Faculdades de Farmácia do mundo», de acordo com o Ranking de Shanghai, e os seus investigadores «publicam o dobro da média da produção científica da Universidade de Coimbra» com o último ranking dos investigadores mais influentes no mundo a incluir «12 investigadores da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra».

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