“Afinal o que importa não é a literatura…”

Mário Cesariny (1923 - 2006)

10 março, 2023≈ 4 mins de leitura

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Mário Cesariny de Vasconcelos, é considerado o expoente máximo do surrealismo português na literatura e nas artes plásticas.

Nascido em Lisboa a 9 de agosto de 1923, desde cedo mostrou qualidades artísticas e literárias que o vieram a destacar no seio do panorama cultural português, numa época em que as suas posições políticas e sociais não eram as mais cómodas para o regime, o que lhe veio a causar inúmeros dissabores.

Frequentou o “Liceu Gil Vicente” e a “Escola de Artes Decorativas António Arroio”, onde conheceu alguns dos futuros companheiros do surrealismo português, nomeadamente Cruzeiro Seixas, tendo produzido a partir de 1942 as suas primeiras pinturas, desenhos e alguns poemas.

Mais tarde, frequentou em Paris a Académie de la Grande Chaumière, onde se cruzou com os principais nomes do movimento surrealista francês, como André Breton, Victor Brauner e Henri Pastoureau, que o marcaram de forma mais intensa. No regresso, ainda em 1947, fundou o “Grupo Surrealista de Lisboa”, onde pontificavam nomes como: Cândido Costa Pinto, Marcelino Vespeira, Alexandre O´Neill, António Pedro e João Moniz Pereira. Mais tarde, depois de um desentendimento com António Pedro, fundou com Cruzeiro Seixas, José Augusto França, Pedro Oom e António Maria Lisboa, entre outros, o grupo “Os Surrealistas”.

No campo literário, Cesariny, além de poeta, foi ainda antologista, tradutor (de Rimbaud, de Buñuel, ou de Novalis), além de compilador e historiador na área do surrealismo. Da sua autoria destacam-se obras como: Corpo visível, o primeiro livro por si publicado (em 1950); Manual de prestidigitação; Pena Capital; Antologia surrealista do cadáver esquisito; A cidade queimada; ou O Virgem Negra, entre muitos outros que se encontram patentes nesta exposição. Colaborou em jornais e revistas, como Cadernos do Meio-Dia, Jornal de Letras e Artes, Vértice e Seara Nova, entre tantos outros.

Nas artes plásticas, datam dos primeiros anos da década de 40 as suas primeiras pinturas e desenhos. O surrealismo português do pós-guerra teve em Cesariny um dos seus maiores impulsionadores, contribuindo com a introdução de novas técnicas e atitudes artísticas: a colagem surrealista, a soprografia, a sismografia e aquamotos, rejeitando muitas das convenções instituídas. Realizou inúmeras exposições, individuais e coletivas, tendo sido agraciado com o Grande Prémio EDP (2002) e distinguido com o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, ambos em 2005.

Figura irreverente e controversa da cultura portuguesa, Mário Cesariny morreu em Lisboa no dia 26 de novembro de 2006.

Exposição Bibliográfica | Sala do Catálogo | 10 a 31 de março

Obras expostas


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