Uma nova edição dos «Tesouros da BGUC», ciclo organizado pela LIBUC, integrado na programação da exposição «Eduardo PESSOA Lourenço». Com Doutor Osvaldo Manuel Silvestre (FLUC) e Dr. A. E. Maia do Amaral (BGUC)

Como é habitual no ciclo «Tesouros da BGUC», a sessão consta de uma apresentação do documento na sua materialidade, por A. E. Maia do Amaral, bibliotecário da instituição anfitriã, e outra sobre a sua importância científica, neste caso a cargo de Osvaldo Manuel Silvestre, Professor da FLUC.

A entrada é livre, mas a inscrição prévia é obrigatória: neste formulário ou por email para bg.eventos@bg.uc.pt.

Uma organização da LIBUC e BGUC

«... Ainda assim, é indispensável produzir um distinguo, fazendo justiça à relação entre a “escrita privada” de Lourenço e a escrita pública dos seus artigos e livros. A marginália de Lourenço surpreende, por vezes, pela sua agressiva franqueza, que é a franqueza de quem fala consigo mesmo no silêncio dos livros e da biblioteca, sem (ou com um mínimo de) superego. Com raras exceções, esse teor de agressividade não transborda para a sua escrita pública, não pondo assim em causa a imagem cordial de um intelectual que soube ser polémico sem ser quase nunca deselegante ou gratuitamente violento. Não se trata, em rigor, de uma imagem apenas, mas antes de uma ética, que quem privou com Lourenço reconhece, desde logo na diferença entre o humor em privado e a gravitas da sua pessoa pública. Essa franqueza agressiva da marginália não passa para o espaço público, pois o que passa é aquilo que o filtro da ética intelectual de Lourenço admite, enquanto saldo de um combate de pensamento que é muitas vezes também um combate pela História. Convirá, pois, agora que podemos entrever a cena agonística de um grande intelectual no seu trabalho de lecto-escrita, não confundir: nem a nuvem com Juno, nem a pesquisa com a bisbilhotice. Trata-se, como sempre em Lourenço, de um pensamento de ensaísta, ou seja, de uma escrita pensante e que presta ao outro, mais ou menos adversarial, essa homenagem fundadora de todo o ensaio: a de escrever a partir do outro e, sempre, com o outro

Excertos de texto de Osvaldo Manuel Silvestre que integrou a exposição «O Esplendor do Caos – Livros e Bibliotecas de Eduardo Lourenço», com fotografias de Duarte Belo e Rui Jacinto

«Vida e Obra de Fernando Pessoa», de João Gaspar Simões

Imagens do livro integrado na Pessoana de Eduardo Lourenco na BGUC, com exemplos de páginas que incluem os comentários de Eduardo Lourenço para Maria Clara e as anotações ao poema fundador do Paulismo.

Participantes

Osvaldo Manuel Sivestre

Professor Associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na qual leciona Teoria da Literatura, Literatura Brasileira e Cinema, na graduação e na pós-graduação.

É coordenador do Instituto de Estudos Brasileiros e dirigiu, no biénio 2021-23, o Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da sua Faculdade. Foi Professor Visitante na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) por duas vezes, e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É membro integrado do Centro de Literatura Portuguesa, unidade de I&D da Fundação para a Ciência e Tecnologia com sede na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, coordenando aí, no âmbito do Grupo de Trabalho em mediação Digital e Materialidades da Literatura, o projeto VOX MEDIA. A Voz na Literatura.

É responsável científico pelo espólio de Carlos de Oliveira no Museu do Neo-Realismo, com uma primeira exposição no Museu do Neo-Realismo em 2017 (“Carlos de Oliveira: A Face Oculta do Iceberg”) e prefaciou a reedição do romance Alcateia, em 2021.

Organizou, com Pedro Serra, o dossiê temático do número 209, de janeiro de 2022, da revista Colóquio/Letras, com o título “A Voz na Literatura”. Os seus últimos livros publicados foram o volume, que coorganizou com Rita Patrício, Conferências do Cinquentenário da Teoria da Literatura de Vítor Aguiar e Silva, Braga, UMinho Editora, 2020, e no corrente ano o livro coletivo, que organizou, Eduardo Lourenço: um tempo brasileiro breve, mas duradouro (Guarda, Centro de Estudos Ibéricos e Editora Âncora).

Tem um site pessoal: www.osvaldomanuelsilvestre.com

A. E. Maia do Amaral

Diretor Adjunto da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra Licenciado em História/Arqueologia e pós-graduado em Ciências Documentais pela FLUC, teve experiências de trabalho diversificadas em bibliotecas públicas (Seia e Guimarães), no planeamento da Rede Nacional de Leitura Pública (requisitado para o Gabinete da Secretária de Estado da Cultura, Dra. Teresa Patrício Gouveia, 1986-1987) e de direção numa biblioteca com perfil nacional – a Biblioteca Central de Macau (1990-1994), requisitado pelo Governo do Território. Desde 1988 na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, trabalhou em catalogação de monografias e em Manuscritos e é, desde 2006, Diretor-Adjunto, primeiro a convite de Carlos Fiolhais, depois com José Augusto Bernardes, João Gouveia Monteiro e, atualmente, Manuel Portela. Como bibliotecário, organizou mais de uma centena de exposições e publicou dezenas de catálogos, entre os quais se destacam a coordenação dos volumes «Tesouros da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra» (2009), «Os livros em sua ordem» (2014) e o volume II «Catálogo bibliográfico) de Camões nos prelos de Portugal e da Europa, 1563-2000» (2015). Desde 2020, dirige o Boletim da BGUC.

Fotografia de João Armando Ribeiro

O que é um Tesouro da BGUC?

Para a seleção das obras apresentadas no ciclo «Tesouros da BGUC», o conceito de tesouro não se limita aos mais raros e preciosos livros e fundos da BGUC, mas também aqueles que «falam eloquentemente de coisas que em cada momento e em cada contexto são valorizadas: em última análise, a qualidade de tesouro não está no objeto em si mas nos olhos de quem o vê e o mostra», sustenta A. E. Maia do Amaral. Nas sessões de «Tesouros da BGUC», organizadas pea Liga dos Amigos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (LIBUC) já foram apresentadas obras como a «Crónica de Nuremberga», a «Bíblia Atlântica», a 1.ª edição de «Os Lusíadas», o datiloscrito da «Praça da Canção» de Manuel Alegre e a história da descoberta da carta do astrónomo jesuíta Cristóvão Borri para Dom André de Almada.