Letra Inicial Maiúscula

… a do género; o restritivo específico em minúsculas e os dois nomes da espécie em itálico ou sublinhados, seguidos do nome do autor ...

E a nomenclatura binominal da espécie, em latim, como unidade base da classificação e da organização dos seres vivos, ficou assim definida no século XVIII, até hoje, por Carlos Lineu (1707-1778) (Fig. 1).

Botânico, zoólogo e médico sueco, considerado o “Pai da taxonomia” moderna, Lineu criou Sistemas de classificação e o estabelecimento de regras, aceites pela Ciência, para estudar os seres vivos. Tantos identificou, que daí vem a conhecida frase “Vulgar de Lineu”.

Um exemplo: o género Rosa L., da família Rosaceae (Fig. 2), de que atualmente existem 5.369 registos na Plataforma on-line das espécies vegetais, “The Plant List” (Fig. 2), foi publicado pela primeira vez por Lineu, na sua obra “Florae lusitanae et brasiliensis” (Fig. 3). Este e outros documentos, bem como modelos florais em papier-mâché de Robert Brendel (Séc. XIX), onde consta a família Rosaceae, estão expostos na Sala Vandelli do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (Fig. 3). Domenico Vandelli (1735-1816), o primeiro Diretor do Jardim Botânico e do Museu da Ciência, foi contemporâneo, discípulo e correspondente de Lineu, que apreciava o seu trabalho e lhe dedicou um género, Vandellia L., da família Scrophulariaceae.

Imprescindível nas Ciências, como em qualquer linguagem, as letras dão nome às “coisas”. É a identificação do “objeto” científico que certifica o estudo e a interpretação da natureza, e permite “escrever” a “História Natural”. Este conceito é da época lineana – conhecer a História da Vida, protagonizada pelos Naturalistas em Viagens/Expedições – bem como o Iluminismo, corrente filosófica, desenvolvida na Europa no século XVIII. Defendia ideais como liberdade, progresso, tolerância e a separação entre Estado e Igreja. Segundo o Iluminismo, apenas a razão, aliada ao método científico, poderia garantir o progresso do conhecimento. Tudo se entrelaçava e fazia sentido para a evolução científica.

Decorridos 285 anos é o mesmo progresso científico que se sobrepõe à classificação do Systema Naturae de Lineu e aponta para uma nova classificação dos seres vivos, baseada na Teoria da Evolução de Charles Darwin (1809-1892). Organizada por 200 especialistas e “escrita” e publicada nos livros PhyloCode e Phylonym, explica a necessidade da modificação da classificação de Lineu, anterior à teoria de Darwin na “A origem das espécies” (1859), por ser baseada nas características morfológicas dos organismos. Lineu desconhecia que “os organismos mudam morfologicamente ao longo do tempo”. No entanto, a linguagem mantém-se e “o sistema de denominação permanece o da época”. A importância das Letra/s nas Ciências.