Quem foi Hilário, afinal?

CS

Carlos Serra

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Mais de um século após a sua morte, o seu nome ainda é imediatamente reconhecido por muitos, muito para além do universo estudantil coimbrão –notoriedade e longevidade que lhe conferem o estatuto de figura icónica. Ficou indissoluvelmente ligado a essa expressão musical que designamos como canção – ou fado – de Coimbra, sendo associado, de há muito, ao tipo do estudante boémio.

Augusto Hilário da Costa Alves nasceu na cidade de Viseu, em cuja roda foi exposto no dia 7 de janeiro de 1864; tal como os seus dois irmãos, viria a ser legitimado pelo ulterior casamento de seus pais.

Hilário fez a sua primeira matrícula na Universidade de Coimbra no ano letivo de 1886-87, vindo a concluir os chamados preparatórios médicos (cadeiras das faculdades de Matemática e Filosofia Natural de frequência obrigatória para quem desejasse cursar Medicina) em 1891-92. No ano letivo seguinte, deu início ao seu curso médico.

Foi um dedicado cultor das artes de palco, tendo igualmente feito parte da Tuna Académica, em cujos espetáculos atuava igualmente a solo. Nesta qualidade percorreu o país, tendo adquirido grande popularidade como autor e intérprete de fado. Para tal muito contribuiu o facto de costumar brindar o público com quadras compostas expressamente para aquele auditório particular, fórmula que suscitava a admiração e imediata empatia dos espetadores. Será essa, muito provavelmente, a origem das duas quadras autógrafas e inéditas que ele deixou registadas num sobrescrito, hoje guardado, como a sua última guitarra, no Museu Académico da Universidade de Coimbra.

Já tenho mortalha nova
Para mais vos agradar
Ó vermes da minha cova
Ó virgens do meu altar.

Que faz além nas alturas
A lua a brilhar nos céus?
Espiona as creaturas
P’ra depois contar a Deus.

Deve notar-se que Augusto Hilário nos deixou a mais antiga gravação da canção de Coimbra, registada em cilindro de cera pouco antes do seu falecimento.

Viria a sucumbir na sua cidade natal, durante as férias da Páscoa de 1876, a 3 de abril, quando frequentava o terceiro ano de Medicina.