A, B, C, D, E

AA

A. E. Maia do Amaral

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Nas bibliotecas, tendemos a gostar das letras “alfabetadas”, isto é, postas na ordem alfabética. Vestígios de um tempo em que “alfabetar” as fichas seguia um corpo de regras detalhadíssimo e ocupava um terço do tempo de trabalho dos catalogadores. Hoje, quando o computador ordena qualquer lista quase instantaneamente, sentimos até dificuldade em imaginar isso como trabalho.

A ordem alfabética, tão “natural” para quem procura informação em listas ou catálogos, era trabalhosa de obter. Antes das fichas bibliográficas, os catálogos de todas as bibliotecas eram em livros: volumes grossíssimos onde se tentava (sempre com sucesso muito relativo) ir inscrevendo por ordem alfabética os livros que chegavam. Previa-se um certo número de páginas para os autores começados por “A”, mas era sempre uma previsão: no fim, os catálogos ficavam cheios de emendas na tentativa de reinserir na devida ordem alfabética as últimas entradas, já escritas nas margens do papel, em desespero.

E o que se fazia, então? Copiavam-se os volumes integralmente, apenas para recomeçar a inserir neles novas entradas, repondo lentamente o caos donde se partira. Como é que vivemos assim durante séculos? Custa imaginar, hoje que o conceito de representar uma obra por uma ficha solta num catálogo é quase intuitivo. Mas manifestamente não o era, antes de ser inventado pelos norte-americanos, no século 19, usando como “standard” o formato das cartas de jogar!

A Biblioteca Geral guarda cópias (ou cópias de cópias?) dos seus primeiros catálogos de autores e de assuntos, remontando a 1798-1805, documentos extraordinários para o conhecimento do crescimento dos seus fundos e para a história das práticas de catalogação dos livros e da sua arrumação.

Em Coimbra, uma solução intermédia entre o velho catálogo “em livro” e as fichas ordenadas numa gaveta foram os “Macetes” de folhas móveis, sugeridos por Bernardo A. Serra de Mirabeau (e só adotados em 1872) e de que a Biblioteca Geral também conserva inúmeros exemplares.