Fr. Manuel do Cenáculo (1724-1814)

Frei Manuel do Cenáculo Vilas-Boas, ou apenas Manuel do Cenáculo, foi um ilustre franciscano e uma figura relevante da cultura portuguesa dos séculos XVIII e XIX. Deixou um legado importante em vários domínios, da arqueologia à pintura, da numismática à escultura e à história natural, à qual se dedicou com entusiasmo, tendo reunido uma importante coleção à semelhança dos gabinetes de curiosidades.

Figura marcante do Iluminismo português, foi um intelectual reformador que imprimiu uma visão dinâmica à cultura do seu tempo, com particular destaque para a dedicação que colocou em torno dos livros e das bibliotecas. Manuel de Vilas-Boas Anes de Carvalho era filho de José Martins, um ferreiro de Vila Real e de Antónia Maria, natural de Lisboa, tendo nascido nesta cidade, na freguesia de Santos-o-Velho, a 1 de março de 1724.

Realizou os primeiros estudos na Casa do Espírito Santo dos Padres Oratorianos, em Lisboa, e mais tarde, a 25 de março de 1740, com dezasseis anos, professou na Ordem Terceira de S. Francisco, no Convento de Nossa Senhora de Jesus, tomando então o nome de Fr. Manuel do Cenáculo. Em 1741 veio para Coimbra estudar na Faculdade de Teologia, tendo criado com Frei Joaquim de S. José, seu mestre, uma grande amizade. Em 25 de maio 1749, doutorou-se em Teologia, participando no ano seguinte, com Frei Joaquim de S. José, no Capítulo Geral dos Franciscanos, em Roma, onde obteve importantes conhecimentos científicos e onde conheceu alguns intelectuais importantes dessa época. Esta viagem permitiu-lhe conhecer algumas bibliotecas importantes em Espanha (Biblioteca Real de Madrid e Universidade de Alcalá), França e Itália (Biblioteca da Universidade de Turim e do Instituto Specula de Bolonha).

Cenáculo foi uma figura influente junto do poder político e intelectual português, o que lhe garantiu algumas nomeações para cargos por parte de D. José e do Marquês de Pombal. Desempenhou diversos cargos políticos e religiosos, tendo sido Deputado da Real Mesa Censória em 1768, Presidente da Junta de Providência Literária, Provincial da sua Ordem (1768-1777), Bispo de Beja em 1772, Arcebispo de Évora em 1802, entre outros. Teve igualmente um papel determinante na elaboração dos Estatutos da Universidade de Coimbra de 1772, na senda do impulso iluminista da época, em colaboração com Domingos Vandelli.

Além de eminente bibliófilo e colecionador, criou e organizou bibliotecas e museus aos quais doou as suas coleções particulares, que incluíam peças raras e valiosas. Deve-se-lhe a criação e instalação da Biblioteca Pública de Évora (1805) e o enriquecimento de outras bibliotecas como a do Convento de Jesus, em Lisboa, a do Seminário de Beja, a Biblioteca da Academia das Ciências e a Biblioteca Pública de Lisboa, atual Biblioteca Nacional, às quais legou importantes fundos impressos e muitos manuscritos provenientes do seu espólio. O Museu em Évora que tem o seu nome teve precisamente a sua génese nas coleções que adquiriu ao longo do tempo.

Frei Manuel do Cenáculo veio a falecer em Évora a 26 de janeiro de 1814, pouco antes de completar 90 anos.

Exposição bibliográfica | Biblioteca Geral | Sala do Catálogo

Obras Expostas