Sons do Ar e do Mar

AT

Ana Cristina Tavares

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Exemplar do Museu, pertencente à extensa e diversificada coleção de aves de todo o mundo, a coruja Tyto alba thomensis (Hartlaub, 1852) (Figura 1) é endémica da ilha de São Tomé, como o nome científico indica, não estando citada para a ilha do Príncipe, do mesmo arquipélago.

É uma subespécie da espécie Tyto alba, cuja área de distribuição incluiu os cinco continentes. Com exceção do Canadá, Alasca, Ilhas árticas, Escandinávia, maior parte de Ásia, zona central do deserto do Sahara, Ilhas da Indonésia e Antártida, podemos encontrar várias subespécies, sendo Tyto alba thomensis nativa e exclusiva de São Tomé.

É grande a variedade de sons que esta aves produzem, um grito lastimoso e estridente, o que dificulte a sua identificação. Mas é inconfundível o silvo que emitem quando são ameaçadas ou se as suas crias pedem alimento.

São aves sedentárias, de hábitos noturnos ou crepusculares. Vivem geralmente associadas a núcleos rurais, onde se reproduzem, ainda que dependam de zonas abertas (campos de cultivo, estepes, rochedos, etc.), próximas a zonas de bosque disperso, onde caçam. São muito observadoras, movendo impercetivelmente a cabeça, e quando se lançam às presas são certeiras, sendo uma das aves que menos falha na caça.

Não do ar, mas do fundo do mar, vem o canto e os sons da baleia, sendo o esqueleto centenário de uma baleia-comum, de nome científico Balaenoptera physalus (L., 1758), um dos exemplares emblemáticos do Museu da Ciência (Figura 2). Deu à costa portuguesa em 1871, na Póvoa do Varzim e o esqueleto, completo, com 20 metros de comprimento, foi montado em 1891 e até hoje presente na sala do Mar. Ao lado, e em paralelo, está uma orca (Figura 3), com perto de 5 metros, da coleção antiga e nome científico Orcinus orca (Rice, 1998).

A baleia-comum (Balaenoptera physalus), também designada rorqual-comum, é um mamífero marinho que pertence à Família dos Balenopterídeos, da Ordem dos Cetáceos. É o segundo maior animal, depois da baleia-azul, podendo atingir até 25,9 metros de comprimento, embora haja relatos de espécimes com 27,3 m. Existem duas subespécies distintas: a baleia-comum-do-norte, no Atlântico Norte, e a baleia-comum-antártica no Oceano Antártico.

Como muitos dos grandes rorquais, a baleia-comum é uma espécie cosmopolita, encontrada em todos os principais oceanos e ausente nas águas próximas aos blocos de gelo dos Polos norte e sul e áreas relativamente pequenas e afastadas dos grandes oceanos (como o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico, o leste do Mar Mediterrâneo e o Mar Báltico). A maior densidade populacional ocorre em águas temperadas e frias e a menor ocorre nas águas mais quentes, em regiões equatoriais. As baleias-comuns preferem águas profundas para além das plataformas continentais e águas rasas. A alimentação consiste de pequenos cardumes de peixe, lulas e crustáceos e o krill.

Assim como todas as outras grandes baleias, a baleia-comum foi caçada em larga escala durante o século XX e está listada entre as espécies ameaçadas de extinção. A Comissão Baleeira Internacional (CBI) obteve uma moratória para a pesca comercial dessa baleia, embora países como a Islândia, Noruega e Japão continuem a caça em determinadas épocas do ano. A espécie também é caçada por aborígenes groenlandeses, através do programa de Pesca de Subsistência. Colisões com navios e decorrentes da atividade humana nos oceanos constituem uma significante ameaça para a recuperação da espécie. As baleias Balaenoptera physalus estão em perigo e protegidas pela Lei de Espécies Ameaçadas de extinção desde 1970, bem como sob a Lista Vermelha da UICN desde 1996.

Comunicando-se através de sons algo parecidos com os humanos, as Orcas (Orcinus orca), a única espécie do género Orcinus, é uma das trinta e cinco espécies da família dos golfinhos, Delphinidae. Sendo um superpredador versátil, a orca inclui na dieta peixes, moluscos, aves, tartarugas, focas, tubarões e animais de tamanho maior, como baleias, quando caçam em grupo.

A primeira descrição da espécie foi feita por Plínio, o Velho, que já se referia a um monstro marítimo feroz. No entanto, a designação “baleia-assassina” para a orca é incorreta, por ser uma tradução direta do inglês “killer-whale”, e pelo facto de não ser uma baleia. Têm uma vida social complexa, baseada na formação e manutenção de grupos familiares extensos, que se deslocam em conjunto e que ocasionalmente assomam à superfície.