Onde está o JOTA?

GP

Gilberto Pereira

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

O Gabinete de Física da Universidade de Coimbra foi criado com a Reforma Pombalina de 1772 e tinha a função de acolher a coleção de instrumentos, oriunda do Colégio dos Nobres de Lisboa, que aportou em Coimbra a 3 de fevereiro de 1773. Nesse dia chegaram a Coimbra 562 objetos que tinham sido reunidos para o Gabinete de Física do Colégio dos Nobres e que, por decisão de Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), Marquês de Pombal, foram transferidos para a Universidade de Coimbra no contexto da reforma do ensino preconizada pelos estatutos universitários de 1772.

O primeiro diretor deste Gabinete, o italiano António Dalla Bella, organizou a coleção e elaborou a sua catalogação, numa obra intitulada Index Instrumentorum. Desta obra existem duas versões. A primeira com duas cópias manuscritas, uma datada de 1787 (encontra-se no Arquivo da Universidade de Coimbra) e outra de 1788 (o exemplar que está no Gabinete de Física e que serviu de base ao trabalho de Mário Silva). A segunda versão de 1790, com pequenas modificações, foi publicada no terceiro volume da obra do professor italiano, Physices Elementa.

Para organizar esta coleção, Dalla Bella atribuiu uma letra a cada um dos armários, um número romano a cada prateleira e um número sequencial a cada instrumento. Depois da coleção estar devidamente arrumada Dalla Bella mandou gravar, em cada instrumento, o número de inventário indicado no Index, precedido da indicação do armário e da prateleira onde o instrumento estaria acondicionado. Por exemplo, o conhecido Magnete Chinês possui a gravação «M.IV.43», que nos indica que o objeto estaria no armário M, na quarta prateleira e que o seu número de inventário era o 43. Em muitos casos, estas gravações foram feitas nos diversos componentes do instrumento. Foram estas gravações que permitiram a Mário Silva a identificação e reorganização do Gabinete Pombalino em 1937.

Visitando este espaço podemos verificar que cada um dos armários é encimado com uma letra maiúscula do alfabeto, em latão. Curiosamente, constatamos que tanto na sala do século XVIII como na sala do século XIX não está atribuída a letra «J» a nenhum armário. A letra «U» também não foi utilizada na sala do século XVIII, o espaço maior, com 22 armários no total. O que sabemos é que estas duas letras foram das últimas a serem incorporadas no alfabeto latino. A letra «J» é uma derivação da letra «I» e a letra «U» surge da letra «V».

Claro, para além do JOTA não sabemos onde está o U!