Principais Contributos

Os membros integrados e os estudantes de pós-graduação realizaram estudos de grande impacto no domínio da paleobiodiversidade. Desenvolveram uma abordagem interdisciplinar que vai para além dos estudos sistemáticos tradicionais, interligando a geocronologia, a paleogeografia e a paleoclimatologia. As contribuições incluem a descrição de novos géneros e espécies de trilobites, insectos, plantas e icnofósseis (Correia et al., 2021; Collantes et al., 2023; Figueiredo et al., 2023), revelando comportamentos únicos de organismos extintos através de novas interacções inseto-planta (Correia et al., 2020) e pegadas de dinossauros (Figueiredo et al., 2022). Estes estudos melhoraram a compreensão da biodiversidade e dos ecossistemas do passado da Terra. Foi dada atenção aos eventos extremos e aos seus efeitos sobre as biotas, incluindo as respostas humanas no Quaternário. Uma contribuição significativa foi o estudo das comunidades sobreviventes após a grande glaciação Hirnantiana (Ordovícica), através da descrição das primeiras associações da Fauna Hirnantia em Portugal (Colmenar et al., 2019) e na Bélgica (Pereira et al., 2021). Estas descobertas revelaram um relito siluriano, sugerindo que os efeitos pós-glaciais retardados do aumento da temperatura e do nível do mar em ambientes protegidos podem ter facilitado o estabelecimento de refúgios. Adicionalmente, foi realizada importante investigação sobre a adaptação e modificação das floras durante a transição Carbonífero-Permiano, influenciada por condições secas e aumento dos níveis de oxigénio (Correia et al., 2021).
O grupo também contribuiu para as reconfigurações paleogeográficas das massas continentais, uma ferramenta crucial para melhorar as reconstruções históricas da terra. Por exemplo, a flora fóssil forneceu provas sólidas de uma ligação entre a Península Ibérica e a Apalachia no Carbónico Superior (Correia & Murphy, 2020), e as comunidades de trilobites do início do Câmbrico sustentaram fortes ligações entre o domínio do Gondwana Ocidental e a Avalónia (Collantes et al., 2021), gerando informações fundamentais para correlações internacionais e regionais (Collantes et al., 2022).

Uma vez que a investigação fundamental no CGeo está fortemente relacionada com o trabalho de campo e a análise de vestígios fósseis, a nossa equipa tem desenvolvido uma vasta experiência em questões relacionadas com o património (e.g., Henriques & Reis, 2021), que vão desde a coordenação de museus de ciência a considerações de Geoética. O CGeo tem procurado abordar questões conceptuais relacionadas com os fundamentos teóricos da Geoconservação, tais como o envolvimento da comunidade (Ferraro et al., 2020), consolidando assim este campo como uma ciência geológica emergente na interface com as Humanidades (Freire-Lista, 2021). Os membros solidificaram o seu papel em organizações internacionais de referência, como o Programa Internacional de Geociências e Geoparques da IUGS, contribuindo ativamente com novos conhecimentos (e.g., Martini et al., 2022). Também têm sido feitos progressos significativos na identificação, avaliação, conservação, valorização e monitorização de materiais, sítios e territórios com património geológico (incluindo arqueológico) indubitável, o que ocasionalmente conduziu a avanços ancilares notáveis, como o estudo coletivo sobre a lactose (Evershed et al., 2022).
Entre estes, destacam-se as investigações sobre a avaliação da contaminação causada pela exploração mineira junto ao Monumento Natural do Cabo Mondego, no Centro de Portugal, em territórios de baixa densidade (Henriques et al., 2020, no NE do Brasil), bem como os estudos em países africanos (São Tomé e Príncipe, Neto & Henriques, 2023) e os que envolvem evidências de povoamentos humanos primitivos (e.g., MSA de África, Pereira et al., 2023). Os doutorandos estão envolvidos em projectos que têm reforçado parcerias com investigadores e instituições de todos os países de língua portuguesa, potenciando as afinidades culturais que partilham. Estas parcerias têm também contribuído para a redução das desigualdades na produção e disseminação internacional do conhecimento científico, alinhando-se com os ODS 4, 11 e 17.
Os contributos para a Geoética têm sido feitos em linha com estes esforços (Sjursen & Oosterbeek, 2023), e o CGeo faz também parte da Cátedra CIPSH em Geoética, recentemente aprovada e afiliada à Associação Internacional para a Promoção da Geoética.

A criação de soluções geotecnológicas sempre foi uma componente essencial das actividades do CGeo. A nossa abordagem à sustentabilidade enfatiza a importância de dar resposta às necessidades, de interagir com os contextos locais específicos e de fornecer soluções que contribuam para o bem-estar das comunidades (e.g., Jambon et al., 2023). Isto envolve a elaboração de soluções à medida para enfrentar desafios geológicos/geotécnicos, como a estabilidade de taludes em áreas de construção e a monitorização dos impactos mineiros (Antão et al., 2023; Fernandes et al., 2023), bem como projectos de capacitação (Jesus & Quinta-Ferreira, 2023). Os membros integrados e os estudantes de pós-graduação têm contribuído de forma responsável para soluções inovadoras para desafios tangíveis enfrentados pelas comunidades locais e instituições, tanto em Portugal como no resto do mundo (e.g., Guiné-Bissau, Senegal e Timor-Leste).
As principais iniciativas incluem a extração e gestão de rochas ornamentais, utilizando novas ferramentas que melhoraram as operações de pedreira através de mapeamento de campo, modelação de blocos e levantamentos aerofotogramétricos, com o objetivo de maximizar o rendimento da pedreira e reduzir os impactos ambientais através da minimização do volume de resíduos (Bogdanowitsch et al., 2022). A investigação sobre as propriedades físicas e mecânicas das rochas e a sua evolução meteorológica durante os ensaios de envelhecimento artificial (Freire-Lista, 2023; Sousa et al., 2021; Trovão et al., 2020; Valido et al., 2023) também têm sido cruciais. Além disso, novos conhecimentos levaram à restauração ambiental, remediação, reutilização e reciclagem de materiais, incluindo o desenvolvimento de ferramentas de avaliação da toxicidade dos metais, biomonitorização e tecnologias de fitorremediação de metais (Chaturvedi et al., 2021; Favas et al., 2023), a utilização de resíduos de corte de pedra em novos materiais (Bruschi et al., 2022) e inovações nos processos de separação para melhorar a reciclagem de plásticos e resíduos eletrônicos (Pita & Castilho, 2020).

A investigação do CGeo tem sido significativamente reforçada através do estabelecimento de duas grandes redes globais. A Cátedra UNESCO em Geoparques, Desenvolvimento Sustentável e Estilos de Vida Saudáveis, sediada na UTAD, é uma rede global de investigação e inovação que tem sido fundamental para o estabelecimento de muitos dos 195 geoparques em todos os continentes (Rosado-González et al., 2021), contribuindo para a expansão do conceito, refinando os seus critérios de garantia de qualidade e definindo os seus critérios de monitorização. A Cátedra UNESCO em Geoparques desenvolve anualmente a Universidade Internacional de verão sobre Geoparques, onde os estudantes se envolvem em práticas inovadoras e aplicam conhecimentos teóricos a cenários do mundo real e às melhores práticas. Os membros do CGeo são parte integrante da coordenação de vários projectos e publicações relevantes, estabelecendo os geoparques como uma realidade global e uma ferramenta importante para a sustentabilidade.
Paralelamente, o ênfase do CGeo na interface entre as geociências e humanidades constitui a base de outra Cátedra UNESCO em Humanidades e Gestão da Paisagem (Oosterbeek, 2019), acolhida pelo IPT. Esta cátedra envolve quase 100 instituições, entre universidades, centros de investigação, ONGs, autarquias locais e empresas privadas, com filiais no Brasil e em Cabo Verde, estreitamente ligadas às redes da CPLP (Oosterbeek & Gomes,2022). Esta estratégia, que inclui um mestrado Erasmus Mundus sobre Paisagens Culturais e um novo doutoramento online sobre Património, Tecnologia e Território (Silveira & Oosterbeek, 2023), tem um impacto profundo na ciência da sustentabilidade. Este facto é exemplificado pela Declaração de Lisboa da Conferência Europeia de Humanidades, endossada pela UNESCO, FCT e Ministério da Ciência e Tecnologia de Portugal, e apoiada por mais de 100 organizações globais (Oosterbeek et al., 2023).

A mais recente contribuição do CGeo é o novo programa da UNESCO para a ciência da sustentabilidade: BRIDGES (Attala et al., 2023). Este programa é baseado na “Declaração de Mação”, que foi endossada em 2019 por mais de 20 coordenadores de programas internacionais e pela UNESCO, após um convite da nossa equipa. Propusemos a criação de um programa da UNESCO para facilitar a interação das comunidades humanas na co-construção do conhecimento sobre seus ambientes, promovendo uma compreensão do planeta não apenas como um sistema, mas como uma teia de significados que influenciam as ações humanas. A investigação sobre as percepções históricas da paisagem, incluindo os seus aspectos simbólicos como demonstrado na arte rupestre (Garcês & Nash, 2023) e outros vestígios pré-históricos (Scarre & Oosterbeek, 2020), juntamente com o envolvimento da comunidade no mapeamento da paisagem (Soares, 2023), alargou o âmbito dos dados científicos disponíveis através de estratégias de ciência participativa.
BRIDGES desenvolve as melhores práticas e protocolos para operar, co-desenhar e co-implementar práticas de gestão sustentável da paisagem com base científica. Estabelecido pela UNESCO, o programa inclui um membro da equipa de coordenação do CGeo no seu Conselho Diretivo. Durante a sua fase preparatória, foram iniciados cerca de 50 projectos locais, tendo a equipa do CGeo participado em aproximadamente 50% dos mesmos, nomeadamente através de projectos aplicados por estudantes na Europa, África, América do Sul e Ásia. Atualmente, o programa tem como objetivo reconhecer 100 contextos no prazo de um ano.