Prazo de entrega alargado até 30 de dezembro de 2022

Coordenadores: Bruno Araújo (UFMT/CEIS20) e João Figueira (UC/CEIS20)

O interesse pelo papel da comunicação e do jornalismo na configuração de processos eleitorais não é propriamente novo. Nas últimas décadas, foram produzidas centenas de reflexões, algumas clássicas e definidoras do campo da comunicação política, acerca das complexas relações entre os media, o campo da política e a sociedade. Num primeiro momento, estudiosos da comunicação e de outros domínios das ciências sociais partiram de inquietações centradas num contexto mediático de hegemonia dos meios tradicionais, com destaque para o papel da televisão na segunda metade do século XX.

Com efeito, ao longo de décadas, os media atuaram como instâncias de mediação predominantes num momento-chave da prática democrática liberal, como o são as eleições, na produção e veiculação de mensagens, com efeitos sobre a qualidade do debate público. Todavia, em tempos mais recentes, presenciamos a aceleração de um processo de colonização da esfera política por lógicas comunicacionais que extrapolam a gramática dos mediatradicionais. Em diferentes regiões do globo, temos assistido a processos eleitorais profundamente digitalizados, fundados em práticas comunicativas próprias de uma esfera política das redes, hiperfragmentada, polarizante e impulsionadora de novos modos de politização e de despolitização. Marcados pelo avanço da desconfiança nas instituições, por uma crise crescente de representação e pela ascensão de sentimentos moralizantes sobre a política, os tempos atuais têm produzido cenários político-eleitorais afetados pela comunicação populista, que explora divisões e o medo, pela desinformação e, muitas vezes, pela intolerância no seio da esfera pública.

Num contexto como esse, que afeta as diferentes esferas da vida social e assume particularidades relevantes em momentos eleitorais, compreender o papel social e político da comunicação, nas suas múltiplas dimensões, é uma tarefa politicamente relevante e cientificamente indispensável para as ciências sociais e, em particular, para os estudos das ciências da comunicação.

Assim, diante dos desafios contemporâneos acerca da relação entre a comunicação e as eleições, os editores deste número da revista Mediapolis, Bruno Araújo, da Universidade Federal de Mato Grosso, e João Figueira, da Universidade de Coimbra, convidam à submissão de artigos científicos para o dossiê Comunicação e Jornalismo em Contextos Eleitorais. Interessam ao número estudos que discutam e analisem questões como:

· A comunicação política de atores, partidos e movimentos em processos eleitorais, especialmente estudos de natureza comparada;

· Cobertura jornalística e processos de agendamento e enquadramento mediáticos em períodos eleitorais;

· Estudos de casos em comunicação estratégica e marketing político em eleições;

· Pós-verdade, desinformação e polarização em contextos eleitorais;

· Jornalismo de dados, digitalização e fact-checking em campanhas políticas;

· Campanha negativa, polarização e despolitização;

· Comunicação populista nos media tradicionais e digitais;

· O lugar das sondagens/pesquisas de opinião na conformação de atitudes políticas e os desafios surgidos diante do crescimento de processos de desconfiança;

· Internet, memes e política do entretenimento em processos eleitorais;

· Polarização e violência política contra profissionais da comunicação nas eleições;

· A comunicação institucional dos órgãos de Estado em períodos eleitorais;

· Participação dos públicos no debate eleitoral e novos agentes de mediação em campanhas políticas;

· Género, media e representatividade em contextos eleitorais contemporâneos;

· Literacia mediática, eleições, esfera pública e qualidade da democracia.

Os artigos devem ser submetidos até 30 de dezembro de 2022, para integrar a edição nº 17 da Mediapolis, referente ao segundo semestre de 2023.

Deverão seguir-se as normas de publicação que podem ser consultadas aqui.