A ideia do Projeto PI (Pequena Infância) surgiu, pela primeira vez, no núcleo da Associação Cultural Thíasos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi recuperado, em 2011, no âmbito das atividades do grupo de estudantes de clássicas, A Origem da Comédia, associação que integra a Associação Portuguesa de Estudos Clássicos (APEC).

O Projeto PI reúne anualmente uma equipa de cerca de quatro a seis elementos, voluntários. Começou por ser formado somente por estudantes de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, quase todos com experiência no âmbito teatral, desde a encenação à representação, até à formação académica, mas abre-se a qualquer pessoa interessada em participar.

Com a recuperação deste projeto, a Associação pretendeu divulgar o teatro no universo infantil – promovendo o conhecimento de algumas das suas características –, e difundir os mitos clássicos, por acreditar que eles conservam o poder pedagógico de outrora, garantindo assim o acesso ao conhecimento de um substrato cultural que fascina a humanidade há vários séculos. Mantemos, desde a edição de 2011, os mesmos objetivos, levar o Projeto Pi a outro tipo de contextos, IPSS, ATL’s, centros de acolhimento, entre outros. Temos, por isso, trabalhado com o Hospital Pediátrico de Coimbra e a Associação Acreditar, a Casa do Pai – Bissaya Barreto, a Casa de Acolhimento do Loreto e o Lar do Padre Serra, em S.Martinho do Bispo.

O Projeto PI pretende realizar e disponibilizar a todos os interessados um conjunto de atividades de caráter teatral de tema clássico, com um pendor duplamente pedagógico e formativo. Com efeito, se por um lado é nosso intuito explorar as potencialidades corporais e psíquicas e aguçar a sensibilidade estética da criança por meio do teatro, aludindo a tópicos relacionados com a História do Teatro (ex.: o uso da máscara) por meio do drama, por outro, através da demonstração dramática e de diálogos intercalares, buscamos também valorizar a dimensão pedagógica do mito, como de resto sucedia na infância do homem grego.

Como o próprio nome indica, trata-se de uma atividade dirigida sobretudo à pequena infância, ou seja, a crianças sensivelmente entre os 4 e os 10 anos. No entanto, devido ao maior número de jovens pré-adolescentes e adolescentes que encontrámos nas Instituições, decidimos criar duas diferentes estruturas para as sessões, levando em conta as faixas etárias. Assim sendo, possuímos uma estrutura com base num teatro de bonecos/fantoches e guiões e exercícios infantis para as crianças do Hospital Pediátrico e outra com um guião mais complexo e exercícios de corpo e voz mais complexos para os restantes jovens. Nas Instituições, tem sido prática, de há dois anos a esta parte, a representação final de uma proposta de Peça de Teatro, baseada nos episódios estudados e dramatizados nas sessões.

As oficinas de expressão dramática exploram, independentemente das idades dos participantes, temáticas e imaginários do mundo clássico greco-romano. A especificidade deste projeto reside precisamente neste ponto – a temática relacionada com o mundo clássico –, razão pela qual têm sido apresentados e explorados mitos greco-latinos, como a viagem e as aventuras de Ulisses, o cavalo de Troia, a eterna teia de Penélope, o mitos de Minos, Narciso e Pandora, os Doze Trabalhos de Hércules, a Descida aos Infernos de Teseu, o Labirinto do Minotauro, o Mito de Atalanta.

Cada oficina não dura mais do que uma hora e meia. As potencialidades formativas da expressão dramática, uma das componentes da educação estética, são já reconhecidas por todos os agentes pedagógicos, na medida em que incentivam a criatividade artística, o autoconhecimento das capacidades motoras, expressivas e criativas, a alfabetização estética e ética. E como consequência da tomada consciência de si, adquire a criança/jovem também um valor fundamental para a cidadania: o respeito pelos limites do outro.