/ Caminhos na UC

Episódio #49 com Hugo Conceição

As Ciências da Educação ao serviço da qualidade pedagógica na Medicina

Os primeiros passos de Hugo Conceição na Universidade de Coimbra (UC) foram dados na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, em 1994. Num misto de incerteza e curiosidade, chega à licenciatura em Ciências da Educação bastante atraído pela diversidade de percursos que oferecia. Depois de várias aventuras profissionais, regressa à nossa Universidade em 2006. Desta vez, o destino foi a Faculdade de Medicina da UC (FMUC), onde é subdiretor do Gabinete de Educação Médica, serviço responsável por manter e promover a melhoria da qualidade pedagógica dos cursos que a FMUC oferece. Há 17 anos a dar apoio a esta área, o trabalhador da FMUC sublinha a importância da colaboração e dos contributos dos estudantes para potenciar o futuro da Educação Médica na UC.

Quando e como começou o seu percurso na Universidade de Coimbra?

Há muitos anos! Começou em 1994, quando entrei, como estudante, na licenciatura em Ciências da Educação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, que terminei em 1999. Desde essa altura, não estive sempre ligado à Universidade de Coimbra, nomeadamente à Faculdade de Medicina, mas, mais tarde, viria a reencontrar-me com a UC.

Como é que surge o interesse pela licenciatura em Ciências da Educação?

Não foi uma escolha fácil, porque, naquela altura, era um curso muito jovem. Havia poucas pessoas licenciadas nessa área. Não havia grandes referências em termos do que seriam as saídas profissionais. Mas atraiu-me o facto de ser um curso de “banda larga”, que permitia várias possibilidades de percurso profissional. Naturalmente, ponderei outras possibilidades, como a Psicologia ou a Sociologia e até outras áreas das Ciências Naturais, mas acabei por ingressar em Ciências da Educação e não me arrependo de o ter feito.

Antes de chegar à Faculdade de Medicina da UC como trabalhador, por onde passou?

Como disse na resposta anterior, as Ciências da Educação permitiam diferentes possibilidades de carreira, por serem uma área muito abrangente. Tive a oportunidade de fazer um estágio na Direção Regional da Educação do Centro. Estive cerca de cinco anos a desempenhar funções técnico-pedagógicas diferentes. Na altura, apoiávamos diferentes projetos que as escolas básicas e secundários desenvolviam, como projetos pedagógicos inovadores ou as reformas curriculares. No fundo, funcionávamos como um apoio regional às orientações e normativas do Ministério da Educação.

Mas o meu vínculo não era o que pretendia e, por isso, fui sempre procurando algo diferente. E acabou por surgir a oportunidade de vir para aqui. Eu estava atento às publicitações de concursos para a Administração Pública e para os vários serviços e encontrei o concurso. Na altura, a Faculdade de Medicina entendeu, de uma forma até bastante inovadora, que pretendia alguém ligado às Ciências da Educação para ajudar a promover a qualidade pedagógica dentro da FMUC, nos vários cursos que propõe, e abriu este concurso. Concorri e, felizmente, acabei por ser o selecionado. E cá estou desde 2006.

Qual é a função do Gabinete de Educação Médica da Faculdade de Medicina da UC?

Inicialmente, quando foi constituído, o Gabinete de Educação Médica da FMUC não funcionava como gabinete, funcionava como um departamento, depois como uma direção e, nos estatutos mais recentes, passou a ser designado gabinete. Antes tinha outras áreas incluídas, que acabaram por se autonomizar, como é o caso das Relações Internacionais.

A missão atual do Gabinete de Educação Médica acaba por se focar muito na melhoria da qualidade pedagógica dentro dos cursos que a Faculdade de Medicina oferece. Esse é o objetivo principal. Temos, claro, linhas secundárias de trabalho, que passam por apoiar os docentes através de, por exemplo, cursos e ações de formação. Fazemos também outro tipo de consultoria e de apoio de proximidade, na base de projetos pedagógicos de inovação. Atuamos na reforma do currículo e participámos, por exemplo, na reforma do curso de Medicina, que ocorreu em 2015 e agora, provavelmente, iniciar-se-á outra em breve, porque os currículos estão sempre em transformação. Na formação em Medicina Dentária, estamos também em preparação para isso.

O know-how que as Ciências da Educação e, em particular, a Educação Médica em Portugal trazem são muito importantes para apoiar também os processos de reforma curricular e de inovação pedagógica.

Temos também outras tarefas mais rotineiras, que têm que ver com os serviços de apoio que prestamos, como, por exemplo, o serviço de leitura ótica de testes. Temos um serviço de leitura automatizada de testes de escolha múltipla – um formato de testes que é muito usado aqui na FMUC –, que torna o processo mais automático e rápido. E, além dessa maior rapidez e automatismo, produzimos resultados de avaliação, que permitem verificar a qualidade das perguntas do teste e do teste como um todo, o que permite aos docentes avaliarem se as perguntas precisam de ser reformuladas ou se a pergunta precisa ou não de ser removida do teste. Em suma, este processo permite aumentar a qualidade do processo de avaliação.

Temos também outros projetos de inovação pedagógica importantes a decorrer ligados à transformação digital, como novas plataformas tecnológicas que apoiam o ensino em áreas importantes como a simulação médica. Os alunos de Medicina, em particular, precisam de exercitar as suas competências em ambiente protegido, em que os seus “erros” não produzem consequências nos doentes, que têm que ser treinadas e isso acontece em contexto de simulação, com equipamentos mais ou menos sofisticados. Há alguns que funcionam com realidade virtual, online; outros são modelos que replicam o corpo humano. E o Gabinete de Educação Médica também apoia toda esta educação médica baseada na simulação.

A cooperação entre a Educação Médica e outras estruturas da Universidade é também muito importante. Dando um exemplo, o Serviço de Gestão de Sistemas e Infraestruturas de Informação e Comunicação da UC, que é responsável pelo manutenção e gestão do Nonio (Inforestudante e Infordocente), ajudou-nos a criar um módulo de competência dentro da plataforma que permite registar as competências que os alunos vão obtendo dentro das várias unidades curriculares e ao longo do curso, que são depois validadas pelos docentes. Estamos neste momento a testar o projeto-piloto deste módulo.

O que o motiva para fazer diariamente este trabalho?

Nem sempre estamos motivados, porque todos temos dias melhores e dias piores e coisas que nos frustram. Mas, em geral, sinto-me motivado para trabalhar, precisamente porque posso dar algum contributo singelo para a melhoria da qualidade pedagógica. É essa perspetiva de ajudar os docentes e os estudantes e de tentarmos ser mais eficazes a proporcionar um ensino e uma aprendizagem de qualidade que me move.

E o que é mais desafiante nesta atividade profissional?

Uma certa sensação de “isolamento”, porque não faço parte do corpo docente e também não sou estudante, mas trabalho muito para e com estes grupos da nossa comunidade. E, apesar de a minha participação enquanto técnico ser, em geral, bem-vinda, nem sempre é muito fácil, porque não estou nos contextos específicos dos estudantes e dos docentes, mas tento fazer essa ponte.

O que leva de mais importante deste caminho na Universidade de Coimbra?

Levo, sobretudo, uma grande aprendizagem. Eu não fazia ideia, por exemplo, que esta área da Educação Médica pudesse ter tanto conteúdo, tanto a descobrir e tanta investigação académica produzida, que é publicada em várias revistas científicas internacionais. Há, inclusive, revistas internacionais especializadas em Educação Médica. E isso fez-me perceber que há um grande contributo que esta área pode dar. Isso é algo que levo deste caminho na UC.

É com a missão de partilhar o conhecimento que tem recolhido no Gabinete de Educação Médica que também tem publicado artigos?

É. E, também neste caso, a colaboração é fundamental, dentro e fora da UC. Geralmente, as publicações sobre o trabalho que temos vindo a fazer resultam de parcerias entre o corpo técnico, o corpo docente e os estudantes. Nós ajudamos os estudantes, mas os estudantes também nos ajudam a produzir Ciência, porque também eles fazem investigação sobre o ensino e a pedagogia nos seus trabalhos finais. E produzem trabalhos de grande qualidade. Muita da produção científica do Gabinete de Educação Médica passa também pelo trabalho com os alunos nas suas dissertações.

Quanto à nossa própria produção científica, também é muito importante, porque é uma forma de medirmos, de forma rigorosa e com método científico, aquilo que vamos fazendo. Não é a parte mais importante ou a que toma mais tempo do meu trabalho, mas também é uma parte muito importante e que só é possível com o trabalho em equipa.

Que mensagem gostaria de deixar à comunidade UC?

Gostaria de dizer que é importante não nos fecharmos dentro das nossas paredes e dos nossos espaços de trabalho. Devemos tentar encontrar pontes e formas de colaborar com outras pessoas dentro da Universidade. Tive algumas experiências muito interessantes de colaborações em projetos interdisciplinares, como, por exemplo, um projeto de educação pedagógica destinado a docentes do ensino superior, que juntou pessoas das diferentes faculdades da UC, ou os projetos do Núcleo de Ensino a Distância da UC. Há espaço para colaboração na UC e, por isso, diria que a mensagem principal é essa: tentem encontrar redes de trabalho e promovam a colaboração dentro da Universidade de Coimbra, dentro do corpo técnico, e entre o corpo técnico, o corpo técnico e os estudantes. Deveríamos ser todos uma grande família e uma grande comunidade. O objetivo deve ser esse.

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Ana Bartolomeu, DCOM e Marta Costa, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado a 18.05.2023