/ Caminhos na UC

Episódio #4 com Beatriz Dias

Encontrar um balanço entre os estudos e a vontade de ajudar quem precisa

À entrada da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), as caixas destinadas à recolha de bens para uma escola na Guiné-Bissau começam a ficar preenchidas, mas toda a ajuda conta. A Beatriz Dias, estudante da licenciatura em Economia na FEUC, recebe-nos com olhar de satisfação para partilhar connosco a vontade que mobilizou a angariação que está a organizar. Falamos sobre a importância de criar empatia, sabendo colocar-nos no lugar da/o outro/a, mas também sobre a vontade de estudar em Coimbra que trouxe à UC a estudante da cidade do Porto.

Quando e como começou o teu percurso na Universidade de Coimbra?

O meu percurso na Universidade de Coimbra, mais concretamente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, começou em 2019, quando ingressei na licenciatura em Economia. Já tinha ouvido falar muito bem sobre a UC, porque a minha irmã também estudou em Coimbra. E, lá em casa, todos os cantinhos têm tradições conimbricenses. Sempre que falava na possibilidade de estudar fora da minha cidade, porque sou do Porto, a minha irmã sempre me incentivou a vir estudar para cá dizendo que quando estivesse cá iria perceber que tinha sido a melhor escolha. E, sinceramente, foi mesmo!

Como descreverias a UC a um/a futuro/a estudante?

Tendo em conta aquilo que conheço de outras universidades, diria que se destaca pela aproximação do estudante à Universidade, à cidade e a todos os projetos em que pode estar incluído, como os núcleos de estudantes, as atividades da Associação Académica de Coimbra ou as juniores empresas. Acho que um estudante da Universidade de Coimbra sai daqui preparado, também com soft skills, através de projetos como o Académica Start UC, entre outros. A Universidade de Coimbra tem muitos projetos para oferecer ao estudante, não apenas no âmbito da licenciatura e outros ciclos de estudo, mas também para o ensinar a ser uma pessoa melhor.

Como surgiu o teu envolvimento no programa Académica Start UC?

Em muitos cursos, que não em Economia, o embaixador do curso é eleito. Em Economia, é escolhido através de um concurso que é promovido pelo Núcleo de Estudantes, indicando que estão à procura de um embaixador. E eu decidi candidatar-me, mas sem ter qualquer esperança em ser selecionada. Tive que escrever uma carta de motivação, de descrever o meu currículo e depois, na fase final, tive que ir a uma entrevista. Todo o processo foi muito engraçado! E foi muito bom, eu sairia do processo muito contente mesmo que não tivesse passado porque tive mesmo uma perspetiva clara daquilo que pode ser uma entrevista de emprego, tendo em conta as questões que nos são colocadas. Éramos cerca de cinco concorrentes e destaquei-me, mesmo sabendo que existiam pessoas com currículos melhores. Através desta experiência aprendi que o medo de arriscar não pode existir, de todo. Foi um processo de aprendizagem e nunca pensei que seria eu a candidata escolhida… E hoje estou aqui!

Como é a experiência de conciliar as atividades letivas com esta iniciativa? Que desafios trouxe?

Acima de tudo, é desafiante. O segundo semestre do segundo ano da licenciatura em Economia é pesado. E acho que é importante termos sentido de compromisso e também a vontade de trabalhar para o que queremos. Por isso, os meus dias têm que ser muito organizados e divido o meu tempo entre o projeto que estou a promover no âmbito do programa Académica Start UC e o estudo. Sou uma pessoa muito estudiosa e o projeto que estou a desenvolver serviu para sair da minha zona de conforto, porque até aqui era 100% dedicada aos estudos. Acabei por começar a sentir-me também recompensada ao perceber que o projeto estava a dar também resultados. Tem sido mesmo desafiante, mas também muito compensador.

Quando, em 2019, chegaste à Universidade de Coimbra, imaginaste que este seria o caminho que irias percorrer?

Nunca pensei que ia ser assim, de todo. Pensei que ia chegar aqui, fazer os estudos, esforçar-me por uma boa média, acabar o curso e ir embora. Ainda bem que não vai ser apenas isso, porque, ao longo destes anos, aprendi que a média não pode ser tudo e que temos que despertar em nós novos sentimentos, saindo daqui não apenas com uma boa média, mas com a certeza de que nos envolvemos em atividades e de que nos tornamos pessoas melhores depois de passarmos pela Universidade de Coimbra.

Recentemente, no âmbito da tua participação no Académica Start UC, promoveste uma ação de sensibilização com a participação de refugiados e voluntários. Com que missão foi pensada esta atividade?

Quando me envolvi neste projeto, sempre pensei que gostaria de abordar temas atuais. Para além das iniciativas com refugiados e sobre inclusão social, trabalhei também em projetos ligados à saúde mental, em parceria com a embaixadora do curso de Psicologia, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, que também teve um bom feedback. Quanto aos temas ligados aos refugiados, escolhi o tema numa altura em que se fala muito sobre este assunto. E, assim, decidi que seria importante conhecer um bocadinho mais sobre os motivos para isto acontecer e o que podemos fazer para os ajudar. Foi assim que surgiu a ideia de trabalhar o tema. Falei com uma colega sobre o assunto e tentei desenvolver a ideia até que consegui recolher testemunhos, nomeadamente de pessoas que trabalharam com os refugiados e de associações, que tiveram a possibilidade de explicar as formas através das quais podemos ajudar e agir neste processo.

O que achas que tu, enquanto promotora da iniciativa, e também as/os estudantes que participaram, retiraram desta iniciativa?

O que retirei e que, acima de tudo, as outras pessoas retiram desta iniciativa foi termos a consciência de que somos sortudos. E isso aconteceu durante o evento. Por exemplo, um dos oradores, um refugiado de Timor-Leste, teve vários problemas no acesso à internet para se ligar à plataforma online onde decorreu a sessão. Ou seja, a internet e a eletricidade, que para nós são bens de acesso básico, para eles podem ser de acesso complicado. E os estudantes presentes compreenderam que nós temos, claramente, um acesso facilitado a estes serviços, o que não acontece em outros países.

O que consideras que podemos fazer para apoiar as pessoas que precisam do nosso contributo?

As recolhas de bens para o Banco Alimentar são um exemplo dessas iniciativas, que, muitas vezes, são ignoradas quando somos abordados nos supermercados. Este é um dos pequeninos passos. É pequeno, mas tem mesmo uma grande dimensão, sejam estas iniciativas, sejam outras como a que estou a promover aqui na Faculdade de Economia e na Associação Académica de Coimbra, para recolher materiais para uma escola na Guiné-Bissau. Acho que, acima de tudo, é muito importante aderir a estas pequenas iniciativas, porque têm sempre um propósito e estão sempre ligadas a grandes projetos.

Quanto à atividade de angariação de materiais para uma escola na Guiné-Bissau que estás a promover, de que forma é que a Comunidade UC pode participar?

A campanha está a decorrer no âmbito da construção de uma escola na Guiné-Bissau e estamos a recolher material escolar. Como a missão é direcionada para crianças, também estamos a recolher brinquedos, que não sejam de pano, fraldas de 3 a 6 kg, e ainda roupas que estejam em boas condições. A recolha está a decorrer até ao final de junho de 2021, na Faculdade de Economia e na Associação Académica de Coimbra.

Para terminar, gostarias de deixar uma mensagem à Comunidade UC sobre a importância do voluntariado?

Acima de tudo, acho importante participarmos em iniciativas para termos a perspetiva de que somos, de facto, uns sortudos. A partir do momento em que conseguirmos assentar esta realidade, de que temos muita sorte pelo que temos à nossa volta, acho que vamos desenvolver um novo espírito sobre a importância da nossa ajuda a quem não tem um quarto daquilo que nós temos.

Pode saber mais sobre a angariação de bens que a Beatriz está a organizar aqui.


Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Marta Costa, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado em 03.06.2021