/ Caminhos na UC

Episódio #33 com Tânia Covas

A vontade de levar o talento da Universidade de Coimbra para fora de portas

Foram as aulas de literatura portuguesa que colocaram a Universidade de Coimbra (UC) no caminho de Tânia Covas. Aquilo que começou como um fascínio pela mais antiga universidade portuguesa, acabou por se tornar numa realidade quando, em 2010, ingressou na UC enquanto estudante de doutoramento. Em 2011, mais uma porta se abre, desta vez para ser bolseira de gestão de ciência e tecnologia. Desde essa altura, nunca deixou de trabalhar na nossa Universidade, onde, durante muitos anos, apoiou estudantes e investigadores/as a implementar os seus projetos junto da sociedade, levando o que se faz no contexto académico para a vida das pessoas. Hoje, presta apoio ao Senado e ao Conselho Geral da Universidade de Coimbra e continua grata pela possibilidade que este caminho lhe tem dado de conhecer a nossa UC em todas as suas dimensões.

Quando e como começou o seu percurso na Universidade de Coimbra?

Isso é uma história interessante. Na verdade, eu brinco que existem momentos distintos. Primeiro, o interesse pela Universidade de Coimbra, que começou nos tempos de liceu, durante as aulas de literatura portuguesa. Lembro de, em 2006, vir à Universidade de Coimbra e ficar completamente extasiada ao pensar “Almeida Garrett esteve cá. Ele pisou este chão!”. Era uma coisa que estava mesmo muito impregnada naquela rapariga que eu era, completamente apaixonada pela literatura portuguesa.

Logo em seguida, em 2010/2011, entrei no doutoramento em Gestão - Ciência Aplicada à Decisão. E já chego cá com outra condição, com a condição de estudante. E em 2011 aparece uma oportunidade única: abrem uma bolsa de gestão de ciência e tecnologia. Eu estava tranquila, com um emprego estável numa das empresas do Biocant, mas o fascínio pela Universidade de Coimbra era tal que eu não resisti e candidatei-me a essa bolsa. Tive a felicidade de ser escolhida e comecei o meu percurso na UC em 2011 como bolseira de gestão de ciência e tecnologia, percurso esse no qual fiquei até 2019, quando, depois de um concurso, fui aprovada e entrei para o corpo técnico da Universidade de Coimbra.

Tenho tido uma sorte muito grande! Tenho mesmo uma sorte muito grande, primeiro porque tive a oportunidade de ir para um ponto nevrálgico da Universidade de Coimbra que era a Divisão de Inovação, onde a criatividade e o futuro eram criados dentro da UC. Nesse ambiente de constante estímulo, pude participar na criação de eventos, de iniciativas e de projetos vocacionados ao empreendedorismo, como o estímulo ao desenvolvimento de startups e de spin-offs associadas à tecnologia que era desenvolvida na própria Universidade. E mais, uma parte que é muito importante: o estímulo dos nossos estudantes e investigadores para que passassem a investigar, para que passassem a investir em tecnologias que pudessem ir para o mercado, e não só nas que ficassem no laboratório. Nada contra, porque a investigação de base é importantíssima. Mas também é importante aquele clique que faz sair do laboratório e ir para o mercado. É tentar retirar do contexto académico algumas tecnologias que são fantásticas – e a Universidade de Coimbra é incrível nessa área, principalmente na parte das patentes e em fazer com que essas patentes possam realmente ter uma vida útil – e fazer com que essa tecnologia realmente faça a diferença e nós a possamos ver no nosso dia a dia. E também é uma necessidade e uma obrigação de uma instituição de ensino superior pública fazer com que esse dinheiro que é investido em investigação faça chegar também essa tecnologia à sociedade. E deve ser essa a nossa postura.

É licenciada em comunicação e mestre em gestão pública. Como é que a junção entre estas duas áreas surgiu como uma possibilidade no seu caminho?

Na parte da comunicação, sempre fui mais vocacionada para aquela questão do marketing político, da comunicação política, já tinha aquela veia um bocadinho mais pública, não era tanto a questão do privado. Quando comecei a atuar nessa área, percebi que precisava de algumas competências, que não tinha, na questão do entendimento do órgão público. O serviço público exige essa capacidade de adaptação e eu percebi que no passo seguinte eu precisava de dados, de indicadores, para que aquela comunicação que era dirigida ao setor público ganhasse consistência, para que eu pudesse mostrar resultados. E foi por isso que fui para o mestrado na área da administração e gestão pública (pelo meio fiz também um MBA em Gestão Estratégica da Informação e do Conhecimento).

Neste momento, é secretária do Conselho Geral e do Senado da UC. Como tem sido a experiência de trabalhar com estes órgãos?

Foi uma alteração de 540º, como eu costumo brincar. Porquê? Porque, na verdade, saí de uma área que é extremamente prática – de estar em campo, estar a fazer acontecer – para vir para uma área muito estratégica. Estamos a falar de dois órgãos importantíssimos da Universidade de Coimbra. O Senado é um órgão de natureza consultiva, que coadjuva o Reitor e também o Conselho Geral (se assim o for pedido), formado pelo Reitor, pelos diretores das Unidades Orgânicas, pelo corpo técnico, e cada Unidades Orgânica tem também um representante dos estudantes. É muito amplo e é um órgão de consulta: ele está lá disponível para ser ouvido. E temos o Conselho Geral, que é um órgão de governo, de estratégia, que entre as suas competências está, por exemplo, a escolha do Reitor, ou alterações estatutárias. São coisas extremamente complexas, que exigem toda uma perspetiva, estudo, muito diálogo.

Como disse logo ao início dessa conversa, me sinto uma privilegiada porque consigo, nesse momento, ter uma visão holística da Universidade de Coimbra. Quando eu pego num plano estratégico e de ação da Universidade, eu consigo ver a monitorização desse plano, as ações a ser realizadas e o impacto que isso gera, tanto dentro da própria instituição, como na comunidade, que eu acho que é um ponto muito importante na Universidade de Coimbra. E a UC sempre teve essa responsabilidade com a sociedade. São 732 anos a dar o seu contributo, não só a Portugal, não só ao mundo lusófono, como ao mundo como um todo. E isso faz toda a diferença.
Foi uma das cofundadoras do Académica Start UC, projeto de sensibilização, educação e formação de estudantes para a inovação e empreendedorismo. Como é que nasceu a ideia de criar esta iniciativa?
Foi em agosto de 2016. Voltávamos de férias e estava no meu gabinete, ainda na Divisão de Inovação com um colega, o Luís Rodrigues, e pensámos num projeto que pudesse agregar todos os núcleos de estudantes da Universidade de Coimbra. Percebemos que falávamos de inovação e de empreendedorismo, mas não falávamos com a linguagem correta. Ou seja, um estudante de Direito não fala da mesma forma que um estudante de Engenharia Eletrotécnica, que não fala da mesma forma que um estudante de Farmácia, que é completamente diferente de um estudante de Turismo. E, então, percebemos que precisávamos de interlocutores que fizessem passar essa nossa mensagem até esses núcleos e que esses núcleos se interessassem pelas iniciativas e os projetos que nós apresentávamos. Mais do que isso: queríamos formar esses 26 embaixadores (que hoje em dia já são 31, porque incluímos, a partir da 4.ª edição, também 5 embaixadores dos cursos de doutoramento, que antes não estavam representados). E passámos a fazer uma série de formações que os estimulasse e que os fizesse crescer enquanto pessoas. Algumas das formações mais interessantes que nós demos foi em empatia, em stand-up comedy, porque é preciso que eles saibam lidar com a frustração, que eles tenham a capacidade e a força de rir deles mesmo. E isso não se aprende na academia, aprende-se nesse ambiente, nessa envolvência da comunidade académica, não é na sala de aula.

Que momentos mais marcaram o seu percurso na UC?

Entre os momentos mais marcantes que passei na nossa UC, destaco: o desenvolvimento do Arrisca C, o concurso de ideias e planos de negócio que distribuiu mais de 1 000 000€ em prémios, consultorias e estruturas para a criação de startups e spin-offs; a implementação do Inov C, o Ecossistema de Inovação da Região Centro de Portugal, que chegou a estar entre as 100 maiores regiões empreendedoras da Europa; a realização da Cimeira Mundial da Saúde (World Health Summit), na qual trouxemos a Coimbra mais de 1 200 das mais importantes individualidades mundiais para falar de Saúde Global na primeira pessoa; a criação do conceito da 1.ª edição da iniciativa Startup Capital Summit, que possibilitou a Coimbra receber o mais importante evento de investimento nacional. Em 2022, já na sua 2.ª edição, o Startup Capital Summit recebeu cerca de 1 400 participantes e mostrou, ao país e ao mundo, a capacidade e o talento predominante na Região Centro. Mas o momento mais marcante acontece diariamente na UC: a possibilidade real de ver o futuro acontecer e partilhá-lo com colegas resilientes, criativos, inovadores, e que trabalham sempre com espírito de equipa.

Para terminar esta conversa, que mensagem gostaria de deixar à comunidade UC sobre a importância de nos envolvermos ativamente nas iniciativas de apoio à inovação e ao empreendedorismo que a Universidade de Coimbra promove?

Nós estamos aqui como um mecanismo, como um meio, para transformar projetos em ações e em iniciativas. E é fantástico quando percebemos que pessoas que não tinham essa dimensão, que precisavam de uma lapidação, digamos assim, de um estímulo, de um incentivo saem da concha. E eu tenho casos incríveis de estudantes, de investigadores, de pessoas até do corpo técnico, em que numa primeira fase de formação estão sentadinhas num canto, que nem sequer pedem a palavra; numa segunda formação já começam a aparecer, já saem mais bocadinho de trás da cortina; depois, num terceiro momento, já começam a pedir a palavra e a serem os porta-vozes dos projetos. Até tem histórias de pessoas incríveis que desabrocharam e que conseguiram grandes cargos internacionais e que falam “vocês, de certa forma, estimularam, abriram a porta”.

O talento e a competência já estavam lá. O que nós fizemos foi mostrar como é que aquilo podia ser capitalizado e melhorado. E isso faz toda a diferença. Às vezes, uma palavra, uma palavra no caminho certo, um conselho que pode direcionar um projeto para que tenha atitude, para que consiga ter a perceção do mercado, faz toda a diferença numa boa ideia e numa startup de sucesso, numa spin-off que pode estar a colocar na sociedade aquela tecnologia que nós criamos. Por isso, participem. Eu vos desafio. Tenham essa ousadia! Fernando Pessoa dizia “tudo é ousado para quem a nada se atreve”. Tenham essa capacidade de ir além dos vossos limites.

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Ana Bartolomeu, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado a 21.07.2022