/ Caminhos na UC

Episódio #32 com Shiva Saadatian

Do Irão para Portugal à procura de novos conhecimentos na área da sustentabilidade

Shiva Saadatian chegou a Portugal em 2012, com a perspetiva de ficar unicamente para frequentar e terminar o mestrado. Mas o tempo foi passando, a rede de amizades foi crescendo, o mestrado deu lugar a um doutoramento, a língua portuguesa começou a entrar no ouvido e passados 10 anos continua cá, longe do Irão, onde nasceu. Integra atualmente a equipa do Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra (III-UC), sendo a gestora da Área Estratégica Clima, Energia e Mobilidade, área de atuação na qual se tem vindo a especializar desde o mestrado. Considera esta união entre a sua área de especialização e o trabalho diário um bom casamento, que lhe permite não apenas traçar novas linhas de investigação, mas também a apoiar outras/os investigadoras/es da comunidade UC na procura por novos financiamentos e projetos.

Quando e como começou o seu percurso na Universidade de Coimbra?

O meu percurso na Universidade de Coimbra começou em setembro de 2012, quando cheguei cá para estudar no programa de mestrado em Energia para a Sustentabilidade (EfS).

Que motivos a levaram a escolher estudar em Portugal?

No Irão, estudei Engenharia Industrial na Universidade de Teerão. Durante a minha licenciatura, descobri que os meus interesses estavam alinhados com o tema da sustentabilidade. A forma de viver em muitos países do mundo tem sido responsável por imensos impactos adversos no ambiente e também na saúde humana. Particularmente, os edifícios consomem muita energia e provocam muitas emissões ao longo do seu ciclo de vida. E todos os componentes dos edifícios, especialmente a envolvente e as janelas, podem reduzir drasticamente o consumo de energia e também os impactos ambientais. A minha motivação para me tornar academicamente hábil neste domínio tinha (e tem) vindo a aumentar com o tempo, até descobrir o programa Energia para a Sustentabilidade da UC e me candidatar a este mestrado cá.

Como é que foi o processo de integração em Portugal?

Posso dizer que foi incrível. Nunca me senti como uma estrangeira. Vim de um país muito famoso pela hospitalidade e em Portugal senti a mesma hospitalidade que um estrangeiro no Irão sentirá. No início, foi difícil, porque me sentia triste com saudades da família e dos amigos que estão no Irão. Mas agora tenho muitos amigos portugueses e construí uma vida aqui e não consigo imaginar um dia sair de Portugal, especialmente desta cidade.

Neste momento, é Gestora de Ciência para as Áreas Estratégicas da UC, na área Clima, Energia e Mobilidade. Como tem sido a experiência de trabalhar nesta área?

Este trabalho é interessante para mim, porque olha amplamente para os programas europeus de financiamento e também porque me familiarizo com novas áreas de investigação que são necessárias no mundo. E também posso dizer que o trabalho de equipa também é uma componente muito, muito importante neste trabalho.

Para quem não está familiarizado, o que são as Áreas Estratégicas da UC?

A Universidade de Coimbra tem unidades I&D (investigação e desenvolvimento) disciplinares e é necessário, cada vez mais, que comuniquem entre si. Por este motivo, foram criadas as Áreas Estratégicas, inspiradas pelo Senhor Reitor, para serem interdisciplinares por natureza e temáticas por vocação. Neste sentido, temos cinco áreas estratégicas na UC, cada uma com uma gestora dedicada, que estão alinhadas com o potencial da UC nessas áreas e também com as necessidades da região, da Europa e do mundo. E as cinco áreas são: Saúde; Património, Cultura e Sociedade Inclusiva; Digital Indústria e Espaço; Recursos Naturais, Agroalimentar e Ambiente; Clima, Energia e Mobilidade, área da qual sou gestora.

Durante algum tempo, conciliou o trabalho enquanto Gestora de Ciência para as Áreas Estratégicas da UC com os estudos, enquanto estudante de doutoramento. Como é que foi a experiência?

Posso referir que houve um bom casamento entre a minha área de investigação e estudo com o meu trabalho. Por um lado, consigo utilizar os meus conhecimentos e experiências adquiridos na minha investigação e na minha área de estudo para apoiar os investigadores e as investigadoras nesta área estratégica e também encontrar financiamento relevante para eles e para elas, particularmente por conhecer o principal grupo de investigadoras/es na área do clima, energia e mobilidade. Por outro lado, posso obter mais experiência na minha área de investigação e descobrir áreas de estudo necessárias e tópicos importantes em todo o mundo para continuar a minha investigação e também partilhar esses temas com investigadoras/es e colegas da UC.

Quando chegou a Portugal, em 2012, pensou ficar após a conclusão do mestrado?

O meu plano era só terminar o mestrado cá. Não era ficar. Terminei o mestrado no mês de fevereiro e candidatei-me a diferentes programas de doutoramento em sistemas sustentáveis de energia no mundo, para além da UC. E em abril recebi o resultado da bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) para o programa de doutoramento da UC em Sistemas Sustentáveis de Energia e isso mudou completamente o meu plano. E agora estou cá, tanto como uma iraniana, e também como uma portuguesa, não só por ter obtido o meu grau de doutoramento em Portugal, mas também por trabalhar aqui em Portugal, especialmente nesta cidade e Universidade.

Para terminar esta conversa, dado que veio de outro país para estudar em Portugal, que mensagem deixaria à comunidade UC sobre a importância de receber de braços abertos pessoas de outras nacionalidades?

Gostaria de agradecer à comunidade UC porque nunca, nunca me senti uma estrangeira aqui na Universidade. E espero que este acolhimento continue para sempre, para que todos os colegas estrangeiros que cá chegarem possam ter o mesmo sentimento que eu tive.

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Ana Bartolomeu, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado a 07.07.2022