/ Caminhos na UC

Episódio #23 com Carina Monteiro

Um percurso a promover novos encontros entre a sociedade e a saúde

Foi enquanto estudante que Carina Monteiro começou o seu caminho na Universidade de Coimbra (UC). 1990 foi o ano de ingresso da técnica superior da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) no curso de Sociologia, lecionado na Faculdade de Economia, e 2003 marca o arranque do seu percurso enquanto colaboradora. A saúde sempre foi a área à qual prestou particular atenção, mantendo-se informada e procurando formações neste domínio. Este interesse foi crescendo a par do seu caminho na FMUC. Hoje dedica o seu trabalho à literacia em saúde e à comunicação da Faculdade de Medicina, interagindo com vários públicos, desde os mais jovens até aos mais velhos. Independentemente do público e da atividade, a missão é sempre a mesma: afirmar o papel da Faculdade de Medicina como fonte de conhecimento na área da saúde.

Quando e como começou o seu percurso na Universidade de Coimbra?

Começou na Faculdade de Economia, como estudante de Sociologia, em 1990. Foi uma escolha convicta, que, na altura, ia ao encontro dos meus interesses, que passavam pela Antropologia, pela Psicologia e pelo Jornalismo. Provavelmente, tendia mais para o Jornalismo, também pelo exemplo, e não influência, dos meus pais, que eram profissionais de rádio. Profissionalmente, o meu contacto com a Universidade de Coimbra aconteceu em 2003, quando comecei a trabalhar na Faculdade de Medicina.

Como é que aconteceu a sua chegada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra?

Tinha terminado recentemente um projeto de investigação como socióloga, na Associação Nacional de Apoio ao Idoso e, entretanto, soube que a Faculdade de Medicina estava recetiva a candidaturas para várias áreas. E candidatei-me. Nessa altura, não fazia ideia qual seria o meu percurso profissional. Interessava-me, sobretudo, ter alguma segurança e, obviamente, para mim a Universidade de Coimbra representava prestígio e acabou por ser um orgulho fazer parte dela.

Começou a sua formação na área da Sociologia, tendo passado depois por pós-graduações nas áreas da Literacia em Saúde e da Saúde Pública. Como é que surge a sua curiosidade pela área da Saúde?

Sempre me interessei pela temática da saúde, no sentido de querer saber mais para compreender melhor e estar informada. Ao entrar na Faculdade de Medicina, foi algo que se impôs de forma natural. Primeiro, com a pós-graduação em Saúde Pública, ministrada na própria FMUC, que me deu uma visão abrangente dos conteúdos de saúde, particularmente no contexto de saúde pública, agora tão em voga. Mais tarde, trabalhei diretamente com o professor Manuel Santos Rosa, imunologista, que despertou em mim o bichinho da literacia em saúde, através das várias ações de formação em literacia que fomos fazendo. Uma delas, por exemplo, foi o ciclo de conferências Saúde sem Fronteiras, integrado no Centro de Estudos Ibéricos, que teve uma duração superior a dez anos e que envolveu dezenas de especialistas em saúde de Portugal e de Espanha. Comecei por tirar uma especialização, um curso breve, de Literacia em Saúde, e outro de Marketing em Saúde, área que aprecio bastante, ambos em Lisboa. Mais tarde, surgiu a oportunidade de frequentar a primeira pós-graduação no país de Literacia em Saúde, no ISPA, em Lisboa. E tive recentemente conhecimento de que foi criada, em janeiro de 2022, a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde.

Atualmente, é assessora da direção na Faculdade de Medicina da UC e desenvolve atividades de comunicação e literacia em saúde. O que torna o seu trabalho entusiasmante?

Desde 2003 que desempenho praticamente as mesmas tarefas e também outras que foram surgindo. Sou responsável pelo site da Faculdade e por todas as redes sociais. E só aí tenho trabalho suficiente, inclusive fora de horas. Mas é algo que aprecio e que procuro acompanhar, estar atualizada, frequentando formação específica. Aprecio e entusiasmo-me em tirar esta ou aquela fotografia para as redes sociais, em promover a marca da Faculdade, em divulgar os artigos de merchandising. Já não é a primeira vez, nem a segunda, que vou de férias e coloco na mala alguns artigos da Faculdade para poder fotografá-los nesta ou naquela situação.

Tenho, obviamente, rotinas diárias, como seja a consulta de e-mails, a resposta a pedidos que nos chegam ou a publicação no site e nas redes sociais. Mas o facto de lidar com várias áreas diferentes, como a literacia, como o público pré-universitário ou o merchandising, faz com que encontre entusiasmo em cada uma delas. Por exemplo, ao ver novos artigos para vender na loja, que envolve um processo de pesquisa, de consulta até à colocação para venda. Todo esse processo até chegar à venda entusiasma-me. Entusiasma-me pensar em novas formas de fazer visitas mais atrativas para o público pré-universitário. Entusiasma-me pensar na divulgação de novos conteúdos de saúde. Entusiasma-me a possibilidade de aprender ao ouvir os nossos palestrantes, investigadores e docentes que são comunicadores excelentes. Entusiasma-me trabalhar com os Núcleos de Estudantes de Medicina e de Medicina Dentária, que são de uma generosidade inigualável. Acima de tudo, quero ser profissional e procuro encontrar, no dia a dia, formas de me motivar e de envolver as pessoas com quem trabalho.

Já participou em várias iniciativas ligadas à literacia em saúde, como o trabalho com a população mais velha ou com a população jovem. Quais é que têm sido, para si, os principais desafios de chegar a estas populações?

Trabalhar com populações diferentes passa, obviamente, por trabalhar com situações diferentes, mas não opostas. Vou destacar dois aspetos: a população e a forma de comunicar. Em relação à população, os idosos, por exemplo, estão normalmente muito recetivos a informações sobre saúde. No entanto, muito centrados no que a eles concretamente diz respeito. Já os jovens estão mais dispersos, devido a uma multiplicidade de interesses, pelo que temas como a doença, a prevenção da doença ou o envelhecimento não fazem parte da sua vivência quotidiana, sendo, por isso, menos apelativos no contexto individual. Assim, a forma de comunicar saúde com os idosos, deve ser feita de uma forma simples, concreta, aplicável e, sempre que possível, vocacionada para um processo teach-back. Já nos jovens, é importante o seu envolvimento na transmissão da informação, no contexto familiar, especialmente com os pais e os avós, para poderem participar ativamente no processo informativo, na perceção do interesse da inovação e da investigação.

E que diferença pode fazer a comunicação de saúde na forma como as pessoas lidam com esta área?

Na sociedade atual, acabamos por ter um infortúnio, que é ter demasiada informação. E temos que ter alguma capacidade de síntese, de sensatez e de espírito crítico para conseguir filtrar a informação essencial. E nem sempre todos nós conseguimos fazê-lo, particularmente a população idosa. E foi por isso que referi anteriormente a necessidade de a mensagem ser simples e concreta para chegar até eles. Temos que usar frases curtas e dirigidas a esta população.

Tive experiências muito enriquecedoras, sobretudo nas sessões de literacia em saúde que fiz com o professor Manuel Santos Rosa na Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais. Tínhamos um protocolo, pelo que promovemos várias ações temáticas, centradas precisamente nos aspetos que mais diretamente interessavam aos idosos, como por exemplo, como “queixar-se” ao médico. Habitualmente, o idoso tem várias queixas e é importante perceber a queixa principal. E foi através do método teach-back que fizemos este exercício, passando a mensagem aos idosos e fazendo-os repeti-la para perceber se entenderam.

Por que motivo é tão importante o envolvimento das universidades no processo de compreensão sobre matérias relacionadas com a saúde?

A compreensão das pessoas e a sua capacitação em matérias de saúde deve ser feita de uma forma simples, credível e bem referenciada. Nada melhor do que as universidades como fonte científica segura, desde as áreas de investigação à prática clínica.

A captação de novos públicos, nomeadamente de novas/os estudantes para a FMUC, é outra das áreas com as quais tem colaborado. Quais é que são os grandes desafios de reunir toda a história e atividade da Faculdade para a transmitir a este público?

A Faculdade de Medicina tem na sua história e na sua atividade motivos suficientes para despertar o interesse dos novos estudantes. Acho que é essencial passarmos a mensagem da vivência única que é ser estudante da Universidade de Coimbra através dos próprios estudantes e das suas experiências, plasmadas em vídeos, em testemunhos, em tertúlias ou através do contacto direto nas feiras de ensino e formação. É importante também contextualizar o ambiente de saúde em que vivemos ou não estivéssemos nós no Polo das Ciências da Saúde, com toda a estrutura envolvente. Devemos também – e costumamos fazê-lo – destacar as áreas estratégicas de investigação da nossa escola, que acabam por nos distinguir em relação às outras. E, claro, proporcionar-lhes uma visita única, uma descoberta, uma surpresa.

Neste caminho de vários anos de contacto com futuras/os estudantes, há questões que lhe sejam colocadas recorrentemente por este público?

Sobretudo, querem saber como é que é ser médico. E procuramos também mostrar-lhes o caminho até chegar a ser médico, até irem para o hospital. Habitualmente também fazem perguntas sobre a dificuldade do curso, se é preciso decorar muito. E aí nada melhor que ter presentes os atuais estudantes, para que eles possam relatar as suas experiências. Fazem também perguntas específicas sobre as especialidades, porque quando nos visitam já vêm com alguma ideia das várias possibilidades a seguir.

Quais foram os momentos que mais marcaram o seu percurso na Universidade de Coimbra?

Como estudante, o facto de ter feito parte de um dos primeiros grupos de Sociologia deixou boas recordações. Éramos poucos, um grupo coeso, tínhamos uma boa relação com o corpo docente e, hoje em dia, mantemos o contacto entre a maioria do grupo.

Em relação ao meu percurso como colaboradora da Universidade, destaco o facto de termos, em tempos, organizado uma feira, aqui em Coimbra, a mostra Somos UC. Foi algo que me orgulhei de ter participado e tenho saudades e vontade de participar numa nova feira Somos UC. Destaco ainda outros momentos, como por exemplo: os projetos de literacia em saúde, como os que fizemos com a Junta de Freguesia dos Olivais, por serem envolventes; os projetos do Centro de Estudos Ibéricos, pela duração que tiveram e pelo envolvimento de vários especialistas; uma sessão que fizemos de suporte básico de vida com o INEM, que envolveu cerca de uma centena de voluntários e mais de quinhentos participantes, que foi marcante e impactante porque na altura não havia ainda redes sociais e conseguimos uma adesão fantástica através da divulgação no site e nos jornais locais.

Também destaco a criação da marca FMUC e todas as que lhe estão associadas e registadas, a sua implementação e o seu reconhecimento. Destaco a criação da mascote da Faculdade, o FMUCAS, que começou por ser personificada numa pen USB (que era distribuída aos alunos nos primeiros anos e que agora se encontra à venda na loja da Faculdade). Há cerca de dois ou três anos, o professor Carlos Robalo Cordeiro, diretor da Faculdade, fez uma surpresa aos alunos e apareceu com um boneco gigante, o FMUCAS. Destaco também a criação da loja beFMUC. Este projeto não pretende ser, numa primeira instância, um sucesso de vendas, mas sim uma forma de promover a marca FMUC.

Para terminar esta conversa, que mensagem gostaria de partilhar com a comunidade UC sobre a importância de nos mantermos informadas/os sobre as questões ligadas à Saúde?

A saúde sempre foi e continua a ser considerada a essência da vida. Pelo que é fundamental estarmos informados e acompanharmos o progresso da ciência, mas sempre com sensatez e sentido crítico para conseguirmos filtrar a imensidade de informação disponível. E, para isto, devemos basear-nos em fontes credíveis e seguras, como por exemplo as universidades.

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Marta Costa, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado a 24.02.2022