/ Caminhos na UC

Episódio #14 com Sara Varela Amaral

Estreitar laços e gerar emoções a partir da comunicação de Ciência

Quando iniciou o seu percurso na Universidade de Coimbra (UC) enquanto estudante ainda havia pouco burburinho em torno da comunicação de ciência como área profissional. Mas, curiosamente, 16 anos depois do seu ingresso na UC, é na comunicação de ciência que se centra a atividade profissional de Sara Varela Amaral. Atualmente, é coordenadora do Gabinete de Comunicação de Ciência do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC) e continua a viver a comunicação de ciência com fascínio, como se fosse a primeira vez que descobre o poder desta área. Estivemos no CNC para conversar sobre as múltiplas formas de comunicar Ciência e sobre os desafios atuais e futuros de uma área em desenvolvimento, que faz a diferença na forma como a sociedade entende e se relaciona com as diferentes áreas do saber e o conhecimento científico.

Quando e como começou o teu percurso na Universidade de Coimbra?

O meu percurso na Universidade de Coimbra começou em 2005, quando ingressei no curso de Bioquímica. Bioquímica não era a minha primeira opção – a primeira opção era o curso de Ciências Farmacêuticas – mas acabou por se tornar, sem dúvida, a minha grande paixão a nível académico e a nível científico e acabou por se mostrar um curso com inúmeros desafios e que até se adaptava mais à minha perspetiva, aos meus gostos e à minha maneira de ver a Ciência. Com a entrada do Processo de Bolonha, acabei por fazer logo de seguida o mestrado integrado também em Bioquímica. Durante o mestrado, fiz investigação de bancada, tendo trabalhado na área da terapia génica para o cancro. Por um lado, acabou por ser uma escolha muito ligada à área que eu gostava – a terapia génica e manipulação genética – e, por outro lado, ligada ao cancro, que era um tema que me era muito sensível, até por causa de casos familiares que tinham acontecido recentemente. Acabei por trabalhar e fazer investigação de bancada durante um ano, aqui no Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade.

Pelo meio deste percurso, acabei por fazer muita coisa: fiz parte da Associação Académica de Coimbra, do Núcleo de Estudantes de Bioquímica e comecei a dar os primeiros passos na área da comunicação de ciência aqui no CNC e também através de iniciativas como o FameLab Portugal. Foi assim que comecei a perceber que era completamente apaixonada por Ciência, pelo conhecimento científico (mais nesta área das Ciências Biomédicas e da Bioquímica), mas senti que faltava qualquer coisa. E essa qualquer coisa comecei a encontrá-la tanto na parte da organização de eventos como na parte do networking (que nós naturalmente criamos quando estamos envolvidos neste tipo de atividades), como também com as pequenas experiências que fui tendo na área da comunicação de ciência. Foi assim que comecei a pensar que faria sentido fazer uma mudança no rumo da minha carreira e assim foi. Neste novo caminho, acabei por fazer o doutoramento em Biociências, tendo desenvolvido a tese Desafios da inovação em comunicação de ciência em Portugal, com o apoio dos meus orientadores Teresa Girão, João Ramalho-Santos e António Gomes da Costa, que me deram essa oportunidade e embarcaram comigo nesta aventura de fazer um doutoramento completamente fora da caixa e inovador na Universidade de Coimbra.

A comunicação de ciência sempre foi uma certeza no teu percurso ou um interesse que foi crescendo?

Não foi uma certeza até porque a comunicação de ciência, no meu mundo, não era uma realidade. Se pensarmos na história da comunicação de ciência em Portugal, há cerca de 20 anos não existia comunicação de ciência enquanto área. Existiam algumas pessoas que, efetivamente, trabalhavam em comunicação de ciência, mas o grande boom da comunicação de ciência começa em 1997, com a criação da rede de Centros Ciência Viva, pelo professor José Mariano Gago. A partir daí, começa a haver uma profissionalização de pessoas e as universidades e os gabinetes de comunicação começam a ter essa preocupação e criaram espaços e profissionais nesta área.

Em 2005, quando comecei a estudar na Universidade de Coimbra, nem sequer se falava de comunicação de ciência. Podiam existir, pontualmente, alguns projetos (nomeadamente os Centros Ciência Viva em Coimbra e no resto do país), mas não existia comunicação de ciência como carreira. Terminei o mestrado em 2010 e é por essa altura que começámos a ver alguns projetos de comunicação de ciência a surgir em Portugal. Se olharmos para o período entre 2010 e 2021 vemos que houve uma evolução completamente extraordinária da área. E quando falo de comunicação de ciência, não falo apenas da comunicação que eu faço, no seio académico, falo também do jornalismo de ciência e da parte mais educativa e dos projetos colaborativos. E foi realmente notável a evolução da comunicação de ciência nos últimos anos!

Respondendo à pergunta, na fase inicial do meu percurso a comunicação de ciência não foi uma certeza, mas algo que se foi construindo tendo em conta as minhas experiências e os meus gostos. E comecei a perceber que a comunicação de ciência era um rumo que fazia sentido na minha vida, que juntava duas coisas das quais gostava muito: por um lado, o conhecimento científico e, por outro lado, a comunicação, a interação com a sociedade e o contributo direto que nós, com esta ferramenta tão poderosa que é a comunicação de ciência, conseguimos dar. E isso era algo que me faltava a fazer investigação científica. O trabalho de investigação por si só acaba por ser um trabalho um bocadinho fechado dentro das quatro paredes do laboratório. Claro que interagimos com os colegas das equipas de trabalho, mas a mim faltava-me toda esta parte da interação social e da comunicação. E fui encontrando nas pequenas experiências que fui tendo ao longo da licenciatura e do mestrado algum gosto naquilo que depois percebi tratar-se da comunicação de ciência, que na altura não sabia bem o que era. Portanto, não foi sempre uma certeza, mas quando comecei a dar os primeiros passos percebi que a comunicação de ciência era aquilo que unia o que gostava e a área para qual poderia dar um contributo válido. Fui encontrar na comunicação de ciência, primeiramente na parte da educação não formal de ciência (que foi a minha primeira experiência profissional), uma área onde estava muito confortável. E comecei a perceber que o que estava para trás foi muito bom, que me tinha dado um background científico excecional, porque a formação científica na minha área na Universidade de Coimbra é muito boa e forma pessoas que dão cartas em todos os pontos do mundo! Os cursos do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra dão-nos ferramentas para sermos aquilo que nós quisermos dentro das várias áreas que abrange, como ser investigador, comunicador de ciência ou empresário. Portanto, não foi, de todo, um erro ter feito este percurso científico, porque foi essencial para conseguir fazer o meu trabalho de comunicação de ciência de uma forma informada todos os dias, como a análise de artigos, a conversa com investigadores ou a preparação de projetos.

O que é que mais te fascina na comunicação de ciência?

Acho que o que torna a comunicação de ciência em algo mágico é conseguirmos criar um momento eureka, em que uma pessoa que não está dentro de determinado tema, de repente, esboça um sorriso e percebe e se sente envolvida nas atividades que fazemos. Acho que a magia da comunicação de ciência passa por conseguirmos criar esta relação. Acho que a comunicação de ciência é isso mesmo, conseguirmos criar relações, criar empatia. É envolver as pessoas em algo que é tão importante na nossa Humanidade que é a investigação científica, que traz soluções para toda a gente. E nos últimos tempos vimos que a investigação científica trouxe soluções para a vida das pessoas. A comunicação de ciência tem este poder de conseguir que as pessoas criem relações com a Ciência, com os investigadores e com a investigação científica, seja pela compreensão, pelo envolvimento, pelo gosto ou pelo bichinho da curiosidade. E esta capacidade de criar relações que a comunicação de ciência tem é o que mais me fascina, sem dúvida!

Dirias que tens um público com o qual gostas mais de comunicar?

Depende. E depende, sobretudo, dos temas mais do que do público. Os temas que estamos a trabalhar têm um papel fundamental. Há temas que, obviamente, me interessam mais do que outros. Trabalhar com crianças é sempre muito interessante, mas tenho tido experiência fascinante no trabalho com pessoas idosas. Trabalhar com associações de doentes é duro, muito difícil, porque somos expostos à realidade. Já tivemos experiências aqui no CNC por parte de colegas que, pela primeira vez, tiveram contacto com um doente, porque um investigador não trabalha num hospital e não tem um contacto direto com o doente, porque não é o seu papel. E o contacto com o doente, com os seus cuidadores e as suas associações pode dar um novo sentido à investigação! Responder às preocupações destas pessoas e sentir que, de alguma forma, aquilo que fazemos no dia a dia lhes dá esperança faz-nos redescobrir a paixão pelo tema. Este é um público muito desafiante e interessante e honra-nos muito ter a oportunidade de trabalhar com eles. Traz-nos uma motivação extra, para quem faz comunicação de ciência e para quem faz investigação, e permite-nos humanizar aquilo que estamos a fazer. Claro que isto não significa que não goste de trabalhar com outros públicos, como, por exemplo, com professores. E este público é também interessante, porque nos coloca questões pertinentes. Não consigo, por isso, escolher apenas um público. Acaba sempre por depender dos temas, como também das iniciativas, como é o caso da Noite Europeia dos Investigadores, que é uma iniciativa que me é muito querida. E, depois, depende também da fase em que estamos e também das equipas de trabalho que são fundamentais para o sucesso de um projeto. Acima de tudo, as minhas preferências estão mais relacionadas com os temas e os projetos, do que propriamente com os públicos. E, por isso, não tenho um público preferido.

Coordenas atualmente o Gabinete de Comunicação de Ciência do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, que tem promovido inúmeros projetos com o intuito de ligar os/as investigadores/as à sociedade. Em linhas gerais, como é que se constroem estes projetos que levam a Ciência às pessoas?

Na minha perspetiva, um projeto de comunicação de ciência tem muitas particularidades, mas não precisa de ser pensado de uma forma diferente de um projeto de investigação. Começa com uma ideia, com uma pergunta ou desafio ao qual queremos dar resposta e depois temos de contextualizar, de construir uma metodologia, temos de envolver pessoas e instituições e depois procuramos atingir resultados. É assim que se constrói um projeto de comunicação de ciência, tal como um projeto de investigação. Obviamente, um projeto de comunicação de ciência vai ser muito diferente em vários aspetos. E há duas realidades. Por um lado, pensarmos um projeto de comunicação de ciência por si só. Neste caso, pensamos numa ideia que faça sentido, fazemos um plano, pensamos em pessoas e em instituições para envolver e vamos tentar angariar dinheiro para executar o projeto. Por outro lado, temos a outra realidade (que tem acontecido no CNC) e que passa por sermos desafiados pelos investigadores para escrevermos uma tarefa de comunicação para a sua investigação. E o desafio aqui é encontrar formas criativas e inovadoras para comunicar o que estão a fazer, para que o projeto seja valorizado e para que seja feita comunicação de forma eficaz, seja, por exemplo, a comunicação dos resultados científicos junto dos media ou a criação de literacia em saúde, através de crónicas em jornais, de banda desenhada ou de iniciativas de contacto direto com vários públicos. E pensar num contexto de um projeto de investigação (com objetivos e temas específicos) na comunicação é algo que me dá muito gozo. E isso faz-se para valorizar o projeto, para gerar interesse nas pessoas em torno do tema e para colocar o projeto na arena da discussão. Isso é algo que é muito desafiante! Depois temos também outra vertente, porque também é feita investigação na comunicação de ciência, que foi o que fiz durante o meu doutoramento. Esta investigação da comunicação de ciência também é algo que assume um papel muito, muito importante. Infelizmente, não faço tanta como gostaria. Fiz durante o doutoramento, vamos também fazendo algumas avaliações de impacto para avaliar as nossas iniciativas e vou fazendo através da orientação de alunos. E a investigação em comunicação de ciência é como a outra investigação: temos metodologias específicas, temos de validar os métodos, fazemos a recolha e o tratamento dos dados, preparamos os resultados e, como todos os outros investigadores, publicamos artigos, vamos a congressos, comunicamos com os colegas e fazemos colaborações.

Quais é que são, na tua opinião, os maiores desafios da comunicação de ciência em Portugal?

Acho que há muitos desafios na comunicação de ciência. E um dos grandes desafios, que está a começar a ser ultrapassado, é a profissionalização. E aqui mérito seja dado a projetos como a rede SciCom Portugal, que é uma rede de profissionais de comunicação de ciência, que tenho muito gosto em integrar. Esta rede começou com conversas e grupos nas redes sociais, que permitiu juntar várias pessoas que estavam a trabalhar na área. Reunimos todos os anos e é sempre muito bom! Esta rede tem desempenhado um papel importante, porque tem feito algum lobbie para a profissionalização da comunicação de ciência. E esta profissionalização tem sido um desafio que não diria que está ultrapassado, mas tem sido um desafio que tem sido ultrapassado. Há 15 anos não havia profissionalização da comunicação de ciência e já começamos a ver posições abertas em vários pontos do nosso país para esta área, que era algo que já víamos acontecer em outros países. Por exemplo, nos Estados Unidos da América e no Reino Unido os centros de investigação têm equipas de investigadores com o mesmo número das equipas de comunicadores de ciência, de técnicos de fundraising e de gestores de projeto. É uma realidade muito diferente. E acho que em Portugal estamos a evoluir nesse sentido: cada vez mais centros de investigação têm gabinetes de comunicação; cada vez mais as universidades apostam no esforço de se envolver nas iniciativas de promoção de ciência (como a Noite Europeia dos Investigadores); e cada vez mais temos projetos na área da comunicação de ciência. E este desafio passa por começar a pôr a comunicação de ciência no mapa daquilo que são as profissões e daquilo que são as tarefas de alguém que faz uma formação, seja especificamente na área da comunicação, seja noutra área científica em que pretenda fazer comunicação de ciência. É um desafio que considero que tem vindo a ser muito bem ultrapassado ao longo dos anos, em que a rede SciCom Portugal tem tido um papel muito importante, quer na parte da criação de formação e na profissionalização destas pessoas, quer na parte de dar visibilidade e criar algum lobbie para os comunicadores de ciência.

A par disto, é essencial dar também algum crédito às reitorias das universidades e às direções dos centros de investigação. Tenho o privilégio de trabalhar num centro de investigação que, desde há muito tempo, valoriza a comunicação de ciência, através das várias direções, como do professor Arsélio Pato de Carvalho, da professora Catarina Resende de Oliveira, do professor João Ramalho-Santos e agora do professor Luís Pereira de Almeida. E é por isso que estou aqui, por isso é que posso fazer o meu trabalho, sendo criativa para criar os meus projetos e tendo uma equipa. E isso é essencial, porque não se faz comunicação de ciência sozinha. Criar este espaço para a comunicação de ciência tem sido também um grande desafio, embora não seja o maior desafio neste momento, porque já tem vindo a ser solucionado. Este desafio acaba também por ser cumprido porque as agências financiadoras (seja a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, seja a União Europeia) também têm vindo a exigir que cada vez mais se faça comunicação. E como também há esta pressão das agências financiadoras há também a necessidade de se fazer mais comunicação de ciência e, obviamente, ter profissionais nesta área.

Em síntese, acho que os principais desafios têm passado por criar formação na área da comunicação de ciência, por haver espaço para os comunicadores de ciência e por existirem contratos para que estas pessoas possam trabalhar. E na minha opinião o grande desafio atual prende-se com os recursos humanos, porque, muitas vezes, ainda temos alguma dificuldade em ter equipas consistentes na área da comunicação de ciência. É difícil manter equipas, porque as condições de trabalho podem não ser as melhores ou porque é precário, por causa das bolsas. Esta questão das carreiras merece muita atenção, porque acaba por ser um bocadinho frustrante formarmos e motivarmos uma equipa ao longo de algum tempo e depois a equipa “desaparecer” porque as pessoas tiveram outras oportunidades profissionais mais vantajosas. Mas acho que este cenário não é apenas da comunicação de ciência, acho que está relacionado com o contexto e a realidade da comunidade académica. Porém, acho que devemos ter uma visão de esperança, porque o cenário tem vindo a mudar e hoje já temos equipas de profissionais a fazer a comunicação de ciência. E na Universidade de Coimbra vemos isso a acontecer!

Enquanto comunicadora de ciência, quando é que sentes que o teu trabalho cumpriu o seu objetivo?

A missão pode ser cumprida em vários pontos. Por exemplo, pode ser cumprida no imediato ou pode ser cumprida depois do contacto, como no caso de uma ida a uma escola em que o aluno leva para casa a informação que fornecemos na sessão. O cumprimento da missão não é fácil de medir. E em que ponto é que percebemos se estamos a conseguir resultados? Depende. Depende dos projetos, depende das abordagens e depende da forma como vamos analisar os resultados dos projetos.

Por vezes, as próprias iniciativas podem também gerar outras oportunidades. Por exemplo, faço parte da organização do PubhD em Coimbra – uma atividade que passa pelo encontro com estudantes de doutoramento num bar, em que partilham os seus projetos de investigação - e já aconteceu neste momento de partilha descontraído surgirem oportunidades de colaboração entre estudantes de áreas de investigação distintas. E, para mim, isto também é um resultado da comunicação de ciência! E é um resultado muito valioso, porque mostra o poder que a comunicação de ciência tem em criar relações e a sua capacidade de juntar áreas do saber muito diferentes.

Outro resultado que me faz sentir que a missão foi cumprida é ver o poder que a comunicação de ciência pode ter na motivação dos investigadores, como a experiência que anteriormente referi do contacto com os doentes e seus cuidadores. E este resultado da comunicação de ciência, como uma atividade que não só dá visibilidade ao trabalho de investigação, como também faz com que os investigadores se voltem a apaixonar pela ciência, é fascinante. A comunicação pode ser levada às pessoas de diversas formas – através do teatro, de uma ida a uma escola ou de uma banda desenhada ou outras coisas – e este contacto com o público pode também ter impacto na investigação e na motivação dos investigadores.

Os resultados da comunicação de ciência têm muito que ver com relações e com emoções. E acho que é assim que se pode ver o resultado da comunicação de ciência. Também se poder medir através das parcerias, porque a visibilidade também contribui para termos mais capacidade para a atração de financiamento.

Quais foram os momentos ou as histórias que marcaram particularmente o teu percurso na Universidade de Coimbra?

Começar a participar em iniciativas de comunicação de ciência durante o mestrado foi fundamental para começar a trabalhar na área, como a Semana Internacional do Cérebro e a Noite Europeia dos Investigadores. Foram as duas grandes iniciativas em que comecei a participar. Outra coisa que foi muito importante foi ter feito parte da equipa do Departamento de Informação da Rádio Universidade de Coimbra. A RUC dá-nos uma experiência muito interessante e é um laboratório em tempo real do jornalismo. E aprendi muito na Rádio Universidade de Coimbra! É um espaço onde conhecemos muita gente, onde temos muitos desafios e onde percebemos o que é o burburinho e a confusão de uma redação. Embora não seja jornalista, acabo por ter muita interação com as notícias e os media e a minha experiência na RUC foi algo muito interessante e que guardo com muito carinho. Outro ponto muito importante – que é um projeto ao qual temos dado muita continuidade – foi a criação de peças de teatro com investigadores através da companhia de teatro Marionet, com o professor Mário Montenegro e a sua equipa. É um projeto fantástico! Já estive envolvida em cerca de sete peças de teatro em que fazemos uso do ambiente dos investigadores como fonte de inspiração para a produção teatral. A criação de peças e de conteúdos artísticos através de conceitos científicos e do dia a dia dos investigadores foi fascinante! Os investigadores são estimulados a participar não apenas sendo atores, mas também escrevendo e trazendo inspiração ao espetáculo através do brainstorming associado à criação artística. Passei por muitas experiências, como o desafio do PubhD em Coimbra, o desafio de criar uma rede de pós-docs na Universidade de Coimbra (que me foi lançado pela professora Cláudia Cavadas, que foi minha coordenadora aqui no Gabinete, que hoje é Vice-Reitora da UC e que foi uma pessoa que sempre me deu muitas oportunidades) e também o desafio de assumir funções como coordenadora do Gabinete de Comunicação de Ciência do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra. Este último foi um grande desafio, acima de tudo pelo recrutamento de recursos humanos e pela sua formação para criar uma equipa coesa, uniforme, profissional e que esteja motivada.

Para terminar esta conversa, que conselho gostarias de partilhar com a comunidade UC sobre a importância de comunicar os projetos de investigação que estão a ser desenvolvidos?

Aqui no CNC temos a seguinte perspetiva: se queremos que os investigadores façam comunicação de ciência, nós temos de lhes dar ferramentas para que o possam fazer. Nós fazemos formação em comunicação de ciência, fazemos muitos seminários e também formação específica para determinadas atividades, tanto para alunos de doutoramento, como para investigadores. É também nossa missão formar os investigadores e inspirá-los a fazer comunicação de ciência. O nosso mote nessas formações passa por mostrar que a investigação nunca fica terminada se não for comunicada. E se encontrarmos formas criativas, apelativas e desafiantes de o fazermos conseguimos fazê-lo de forma estruturada, que vai trazer resultados muito melhores, até para a pessoa que faz esta comunicação, tanto do ponto vista pessoal, como profissional. Neste contexto, o meu conselho é: permitam o desafio, porque a comunicação de ciência pode trazer desafios que nos tira, sem dúvida, da zona de conforto. E é fora da zona de conforto que encontramos a magia das coisas! O meu grande conselho, que normalmente damos aos investigadores é este. Desafiem-se, não tenham medo de sair da zona de conforto porque podem acontecer coisas fantásticas quando arriscamos. E a comunicação de ciência pode trazer isso! Obviamente que os investigadores têm muitos outros desafios para além da comunicação de ciência, mas os projetos que construímos nesta área estão aqui para os tirar da zona de conforto, de forma controlada, estruturada, organizada e sem grandes riscos, para que a comunicação de ciência possa ser uma mais-valia, do ponto de vista pessoal e profissional.

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Marta Costa, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado em 21.10.2021