/ Caminhos na UC

Episódio #51 com Cristina Vieira

A satisfação de partilhar mais de 30 anos de carreira na Universidade de Coimbra com as/os estudantes

Foi em 1986 que Cristina Vieira começou o seu percurso na Universidade de Coimbra (UC), mais precisamente enquanto estudante da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Depois de vários anos dedicados à docência e à investigação, agarrou, em maio de 2023, um novo desafio: ser a Provedora do Estudante da Universidade de Coimbra. Encarou esta nova fase com um grande sentido de responsabilidade e compromisso, continuando a seguir a missão que sempre orientou a sua carreira: cooperar e respeitar todas/os para tornar a nossa Universidade um espaço cada vez mais agradável e melhor.

Quando e como começou o seu percurso na Universidade de Coimbra?

Em 1986, entrei na licenciatura em Psicologia, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC). Fiz o percurso durante cinco anos, licenciei-me ainda pré-Bolonha e acabei em julho de 1991. Em setembro/outubro desse ano, candidatei-me a um concurso para ser assistente na FPCEUC. Entrei, mas o Tribunal de Contas congelou o concurso, por questões financeiras do país. Ainda assim, estive na mesma a dar aulas, até 1992, tendo sido tudo regularizado por essa altura. O meu caminho na UC começa, portanto, em 1986 e continua até hoje.

Por que decidiu escolher a licenciatura em Psicologia?

É uma pergunta interessante e, ao mesmo tempo, não tenho uma resposta direta para ela. Diria que, talvez, porque sempre me preocupei muito com as outras pessoas, em ajudar e compreender os outros. Talvez também tenha sido motivada pelas minhas condições de vida na altura de tomar esta decisão, porque perdi a minha mãe muito cedo e fiquei com um irmão pequeno de quem tive de cuidar. Diria, por isso, que houve uma série de fatores pessoais e de vida que me levaram a dar importância a este tipo de cursos, que tivessem que ver com as relações com as outras pessoas. E, claro, que as minhas notas também tiveram impacto nesta decisão. Nunca fui uma aluna com classificações máximas, mas sempre tive notas que me permitiriam escolher o curso que queria. Houve um período muito complicado, no final do ensino secundário, com a perda da minha mãe, que teve impacto nas notas, mas consegui entrar em Psicologia na UC.

Como é que as Ciências da Educação apareceram no seu percurso?

Comecei a dar aulas de Metodologia da Investigação em 1991, ainda como assistente estagiária. Era uma área nova em termos de lecionação, que também não tinha existido no meu currículo da licenciatura. Por ser uma disciplina tão nova, o trabalho de preparação acabou por ser um pouco solitário, mas muito acompanhado pelo meu orientador, o Professor Doutor António Simões. Inicialmente, dava estas aulas ao curso de Psicologia e passei também a dar ao curso de Ciências do Desporto. A Metodologia da Investigação acaba por ser uma área transversal às diferentes áreas científicas. A licenciatura em Ciências da Educação foi criada em 1990, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, e mais tarde comecei também a colaborar como docente de metodologia deste curso.

Depois da experiência de dar aulas a diferentes áreas do saber, quando chegou a altura de escolher o doutoramento, não tive dúvidas que queria uma área de fronteira, que conjugasse a Psicologia com a Educação. Escolhi, por isso, o doutoramento em Ciências da Educação, na especialidade de Psicologia da Educação. Estudei muito as questões das representações sociais, no âmbito da educação familiar, ao nível das conceções sobre o que era ser rapaz ou ser rapariga (os chamados estereótipos de género) e as representações que os pais e as mães tinham acerca da forma como educavam filhos e filhas adolescentes, naquela altura, e como eles próprios, enquanto mulheres e homens, se viam.

Sinto que fez todo o sentido ter seguido caminho na área das Ciências da Educação. É uma área que abraço com uma profunda dedicação, sem esquecer a minha origem na Psicologia, porque a compreensão do desenvolvimento humano e do funcionamento sistémico da pessoa e da pessoa em grupo faz todo o sentido para compreender e promover os processos educativos.

Sobre a escolha de fazer o caminho profissional como professora do ensino superior, como percebe que gostaria de seguir esta carreira?

Nunca tive dúvidas sobre o que queria fazer a seguir a concluir o curso. Por isso, sempre me vi como professora: via-me sempre numa relação com outras pessoas, e, particularmente, com estudantes jovens.

É a atual Provedora do Estudante da UC. Como é que reagiu quando lhe foi lançado este desafio?

Senti-me muito feliz pela confiança do Senhor Reitor, das pessoas que votaram em mim e dos e das estudantes que confiaram em mim para o desempenho destas funções. Mas, ao mesmo tempo, sinto uma enorme responsabilidade que ainda estou a incorporar, para tentar dar resposta aos desafios que têm surgido – e têm sido muitos nos últimos dois meses – da melhor forma possível.

Sinto-me honrada com o convite, feliz por confiarem em mim e, ao mesmo tempo, desafiada a fazer mais e melhor. Ao mesmo tempo, sinto que posso usar, na tomada de decisão e na ponderação dos casos que têm surgido, toda a minha experiência como docente nesta Universidade há mais de 30 anos. E, nesta casa, já passámos por várias fases, momentos de discussão sobre os apoios governamentais ao ensino superior, vários momentos de contestação estudantil ou épocas de maior acalmia.

Enquanto estudante, envolvi-me em atividades extracurriculares ligadas à Associação Académica de Coimbra e ao Núcleo de Estudantes da minha Faculdade (na altura, o Núcleo de Estudantes de Psicologia - NEP). Foram momentos muito enriquecedores, que me ajudam a analisar com outro olhar as situações que possam aparecer. E, talvez, se não tivesse passado por essas experiências, não teria o mesmo tipo de conhecimento sobre as relações entre estudantes, entre listas, entre cargos, entre entidades.

O que tem sido mais desafiante desde que começou a desempenhar esta função?

O que tem estado a ser mais desafiante é a tentativa de dar resposta aos casos e às situações que nos têm surgido, e que são diárias, e conciliar o terminus das minhas tarefas como docente, uma vez que estava em pleno segundo semestre quando recebi o convite.

O que leva de mais importante deste percurso na UC?

Levo a relação com os e as estudantes, que para mim é muito importante. Aliás, quando recebi o convite para ser Provedora nunca hesitei na resposta, mas achava que podia combinar o cargo com a lecionação. Obviamente que não devo, por questões de conflito de interesses, mas a relação com os e as estudantes, em termos de lecionação, para mim sempre foi muito gratificante. É uma relação de interação e aprendizagem para ambas as partes, na minha opinião. Continuo, obviamente, a ter relação com estudantes e farei de tudo para continuar a retirar desta relação satisfação pessoal e prestar apoio no que for necessário.

Em suma, se tivesse que escolher um aspeto que me trouxe muita satisfação ao longo destes mais de 30 anos de vida na Universidade, escolheria a relação com as gerações mais jovens que têm passado por mim, que foram muitas, de várias proveniências, de vários países, com situações de vida muito diversas, todas elas muito especiais.

Que mensagem gostaria de deixar à comunidade UC?

Que continuemos a cooperar. Tenho sentido uma cooperação extremamente gratificante, da parte de todos os serviços com quem tenho contactado nestes últimos dois meses (desde que assumi a Provedoria do/a Estudante). E é mesmo verdade, não estou a dizer isto só para ser simpática. As pessoas têm estado realmente disponíveis para colaborar com a Provedoria, para resolvermos rapidamente os problemas que vão surgindo. Tem sido interessante perceber o quanto as pessoas estão empenhadas, porque é algo que não se vê se não estivermos a desempenhar certas funções.

Por isso, a mensagem que gostaria de deixar é que continuemos a trabalhar em conjunto para resolvermos as situações e para tornar a UC um espaço cada vez mais agradável e melhor, onde sejam respeitados não só os direitos dos e das estudantes, mas também dos diferentes profissionais especializados e não especializados que fazem parte da comunidade, porque somos todos igualmente importantes para a vida da instituição.

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM, Inês Coelho, DCOM e Marta Costa, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Ana Bartolomeu, DCOM e Marta Costa, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado a 27.07.2023