/ À Procura de Respostas

Episódio #3 | GREEN: à procura de uma forma revolucionária de gerar energia limpa a partir de microalgas

Financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, agência de financiamento da Comissão Europeia, com mais de 2,2 milhões de euros, o projeto de investigação “Geração de Energia a partir de Algas Eletroativas” (GREEN), liderado pela Universidade de Coimbra, está em curso até ao final dezembro de 2025, e pretende encontrar uma forma de gerar energia limpa, ou seja, não poluente, através de microalgas.

Publicado a 27.06.2024

Há alguns anos, o docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DCV/FCTUC) e investigador do Centro de Ecologia Funcional (CFE), Paulo Rocha, descobriu que as microalgas comunicavam entre si e que esta comunicação poderia gerar energia. “Nunca se pensou que esta comunicação entre microalgas pudesse ser usada também para gerar algo tão útil para nós como é o caso da energia limpa”, partilha o cientista. A partir desta descoberta, começou a desenhar um ambicioso projeto de investigação, que tem como missão central a possibilidade de criar uma nova forma de geração de energia limpa, ou seja, um tipo energia que não tem emissão de gases com efeito de estufa.

Foi assim que nasceu o projeto Geração de Energia a partir de Algas Eletroativas, com a sigla GREEN, aprovado na primeira vez em que se apresentou a concurso para ser financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, um mecanismo de financiamento da Comissão Europeia altamente competitivo. “Estamos a tentar explorar se realmente será possível gerar energia a partir de microrganismos como as microalgas”, avança o líder do projeto. “A teoria diz-nos que sim e a prática começa a dar-nos algumas indicações de que realmente poderá ser possível”, revela.

O GREEN arrancou oficialmente a 1 de janeiro de 2021 e, desde essa altura, já muitos passos foram dados, desde logo a criação de um novo laboratório na Universidade de Coimbra dedicado à bioeletrónica e à bioenergia. O líder do GREEN sublinha que no mundo há poucos laboratórios como este e que se pretende que este laboratório venha a ser “líder mundial nestas áreas de investigação”.

Através do uso das diversas máquinas e das várias estações de trabalho existentes neste espaço – que vão desde a caracterização biológica à avaliação elétrica dos sensores que captam os sinais emitidos pelos microrganismos – a equipa multidisciplinar que está envolvida no projeto tem estudado a fundo a possibilidade de “criação de um novo tipo de bioenergia, que assenta, sobretudo, na comunicação existente entre comunidades de microrganismos, nomeadamente microalgas”, contextualiza Paulo Rocha. “É uma forma radicalmente diferente de gerar energia quando comparada com o que é normalmente feito na atualidade”, sublinha.

Mais relevante se torna este projeto se pensarmos na fonte principal desta energia limpa, uma vez que passa pelo uso de um elemento que pode ser considerado dispensável: as microalgas. “Há quem pense em microalgas como algo que não é útil, que se quer fora de determinados ambientes, como é o caso da indústria da água; no GREEN encaramos estes microrganismos de outra forma, aproveitando a sua perseverança para os usar como fonte de energia”, explica o investigador.

A investigação tem vindo a ser conduzida por uma equipa de 7 pessoas, incluindo investigadores e estudantes de mestrado e de doutoramento, de áreas como a Biologia, a Bioquímica, a Ecologia, a Engenharia Eletrotécnica ou a Física. A multidisciplinaridade é absolutamente essencial neste projeto, em que é necessário perceber estes microrganismos do ponto de vista de diferentes áreas disciplinares. E esta análise aprofundada só é possível graças às máquinas que existem no laboratório, “que tem instrumentação como muito poucos laboratórios no mundo têm”, partilha o cientista.

Neste laboratório pioneiro da Universidade de Coimbra, há muita tecnologia para a caracterização biológica das microalgas, “uma vez que precisamos, por exemplo, de perceber como é que os microrganismos interagem com os nossos sensores em termos de biocompatibilidade; ou o estado de crescimento das microalgas”, exemplifica Paulo Rocha. As caracterizações elétrica e eletroquímica dos sensores desenvolvidos pela equipa para captar estes sinais são também absolutamente essenciais e, como tal, foi necessário um grande investimento em instrumentos que permitissem este trabalho (por exemplo, um dos instrumentos principais adquiridos para o desenvolvimento desta investigação custou mais de 500 mil euros). “Temos instrumentação capaz de medir sinais muito pequenos, muito sensíveis, até sinais com alguma amplitude”, revela o líder da investigação.

É a captação e armazenamento destes sinais que pode vir a mostrar ao mundo que é possível contar com uma nova forma de energia limpa. “Se conseguirmos armazenar estes sinais bioelétricos de maneira eficiente, conseguimos ter uma fonte de energia renovável. Essa é a ambição principal do projeto», remata Paulo Rocha. Com esta missão, até dezembro de 2025, a equipa deste ambicioso projeto continuará em busca de um futuro energético melhor para todos.

Assista ao vídeo sobre o GREEN

Ficha Técnica


Nome

Geração de Energia a partir de Algas Eletroativas (GREEN)

Coordenação Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra

Website

www.greenproject.pt/
Duração

5 anos (1 de janeiro de 2021 a 31 de dezembro de 2025)

Financiamento 2 267 667,00 euros
Entidade financiadora

Conselho Europeu de Investigação, através do programa Horizonte 2020 da Comissão Europeia

Número de investigadores envolvidos 7
Áreas de investigação envolvidas

Biologia, Bioquímica, Ecologia, Engenharia Eletrotécnica e Física

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM e Inês Coelho, DCOM

Imagem e Edição de Vídeo: Karine Paniza, DCOM e Marta Costa, DCOM